A luta contra o machismo, o racismo e a LGBTfobia na UFU

Por Raissa Dantas

 

 

O terceiro dia de XXVII CONSINTET-UFU teve início com a mesa “A luta contra o machismo, o racismo e a LGBTfobia na UFU”, que aconteceu durante a manhã da quarta-feira (11) com intenso debate que contribuiu para a reflexão do caminho que o movimento sindical na UFU deve e precisa trilhar no sentido de superação das estruturas que oprimem companheiras e companheiros Técnico-administrativos em Educação (TAEs) da universidade. O debate teve a mediação de Maria Cristina Sagário e contou com as contribuições de Dandara Tonantzin, Karla Muniz e Guilherme Augusto.

A mesa teve início com exposições de Dandara Tonantzin, que é mestranda na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e militante de movimentos sociais de negras e negros, mulheres e juventude.

Tonantzin realizou seu debate centrado na questão racial e contextualizou o Estado brasileiro desde o período escravocrata, explicando as dificuldades que negros e negras enfrentam diariamente alimentadas pelo mito da democracia racial, sustentada na meritocracia. Dandara afirma que “é essencial conhecer a nossa história para entender de onde viemos e onde estamos, pois é muito caro ainda hoje debater o racismo. No Brasil quem vive e quem morre, quem estuda e quem é preso, quem está em subempregos e quem está em cargos de chefia é determinado pelo racismo. A cada 23 minutos 1 jovem negro é assassinado no Brasil”. A mestranda trouxe como sugestão o documentário “Décima terceira emenda”, disponível na Netflix, para a compreensão de elementos estruturais do racismo e ainda apresentou relatos de eventos diversos em que vivenciou o racismo na UFU. Dandara sintetizou sua fala em dois pilares que acredita ser fundamentais no sentido de avanço para a superação do racismo, que seriam de que “as pessoas que não são negras precisam exercitar a empatia e refletir sobre seus privilégios. Quais os privilégios que você colhe como frutos do racismo?” e, ainda, a necessidade das pessoas negras localizarem as opressões que vivem para organizar a luta.

 

A mesa seguiu com a fala de Karla Muniz, TAE na UFU e coordenadora suplente eleita da gestão 2020-2022 do SINTET-UFU, centrada no debate do machismo e como este afeta a organização sindical, pois “de alguma maneira a gente ainda não se deu conta que a luta do trabalhador é também luta contra o machismo, racismo e homofobia”. Muniz realizou um debate traçando paralelos constantes sobre a realidade do machismo e da lógica patriarcal nas relações interpessoais, de trabalho, dentre outras, com a questão que a categoria de TAEs da UFU vivenciam na prática do movimento sindical. Karla exemplificou que “às vezes a mulher não tem sequer acesso ao mercado de trabalho, já que no momento da entrevista de emprego não chega a ser contratada por engravidar. Nossa função é questionar o papel da mulher na sociedade. O trabalho doméstico, por exemplo, tem que ser um trabalho humano, não feminino”. Trazendo a discussão para as técnicas e técnicos da UFU, a convidada trouxe provocações à categoria quando refletiu sobre estatísticas de mulheres negras na UFU, onde estão concentradas em cargos e níveis de trabalho, uma vez que “a ausência das mulheres em grandes cargos não está ligada à competência, mas sim ao machismo e racismo”.

 

Para finalizar a mesa, Guilherme Augusto, que é TAE e doutorando na UFU, contribuiu com o debate sobre a LGBTfobia e a necessidade de se debater todas as opressões que, se surgem, é por serem latentes. Augusto trouxe uma exposição em slides (disponibilizada aqui) na busca de trazer a didática de compreensão desde a sigla LGBTTQIA+, até em quais contextos se explicitam práticas homofóbicas no movimento sindical e no cotidiano da UFU. Guilherme afirmou que “a forma de combater a LGBTfobia é pelo feminismo. As sexualidades desviantes são consideradas doença porque a sociedade quer controlar esses corpos”. O debatedor ilustrou com dados estatísticos, manchetes de jornais e exemplificações as muitas violências que as populações LGBT sofrem cotidianamente e que são facilmente percebidas e encontradas na UFU. Guilherme encerrou sua apresentação instigando o público a repensar suas práticas e colocando que “a gente precisa desconsiderar a lógica de que as pessoas são definidas de acordo com seu aparelho sexual”.

 

Posterior às apresentações da mesa, o público se inscreveu em peso e foi sujeito à proposição da mesa que respeitasse a paridade de falas de homens e mulheres, o que motivou a participação intensiva e plural de falas e contribuições. Propostas de mesas, atividades, publicações e campanhas foram elencadas como ideias a se melhorar as práticas sindicais e devem ser encaminhadas no próximo período pelo sindicato. Foram homenageados Diego Gonçalves Rodrigues e Paulo Vaz, companheiros da FASUBRA que faleceram no último período.

 

Pela tarde teremos grupos de trabalho a fim acumular para o plano de lutas do sindicato. Aguardamos a participação de todas e todos.

 

 

11 de dezembro de 2019