A consulta eleitoral remota na UFU: pandemia e falácia do voto on-line

Gilvane Gonçalves Correa (Téc. Assuntos Educacionais – Curso de Ciências Biológicas / UFU)
Jimi Naoki Nakajima (Docente do Instituto de Biologia / UFU)

 

Este momento atual provocou muitas mudanças em nossas vidas pessoais e profissionais. Tivemos que nos readaptar, nos reinventar, além de nos distanciarmos e nos isolarmos de quem gostamos (e, porque não, de quem não gostamos – o que achamos até bom).

Mas o que não mudou foi o comportamento: reclamamos de coisas e atividades que fazemos agora, mas outrora vivíamos reclamando também! Então realmente não mudamos de fato.

No ambiente universitário, o calendário foi suspenso e foi recomendado que não deveríamos circular por espaços da UFU. E, mesmo assim, continuamos produzindo e, consequentemente, a produção acadêmica aumentou bastante. Isso pode ser explicado por duas ou mais hipóteses: no isolamento muitas/os tiveram mais tempo para preparar ou terminar os manuscritos que estavam nas gavetas ou pastas; ou as pessoas continuaram a frequentar seus laboratórios e espaços de pesquisa; ou as duas coisas simultaneamente. E mencionamos somente estas duas hipóteses.

Outras atividades que não pararam na pandemia: as reuniões administrativas e as rodas de conversa sendo esta mais utilizada do que aquela. Elas foram realizadas de forma remota, e muito rapidamente para alguns assuntos. Já, para outros, as discussões e reuniões foram tardias ou nem ocorreram.

Reafirmamos: o comportamento acadêmico não mudou. É como se estivéssemos em uma greve por tempo indeterminado, mas sem a necessidade de “trancaços” e mobilizações em salas de aulas e nas ruas. Quem mais se prejudicou nesta situação? Obviamente as/os estudantes, uma parte não está em aulas, e a outra parte não está conseguindo fazer as aulas remotas de forma eficiente. E tudo continua do mesmo jeito.

Você pode estar se perguntando: qual a relação disso com o título do texto?

A explicação é: como foi presumido que toda a comunidade universitária estaria em suas casas e em trabalho e/ou em aulas remotas, seria fácil votar pelo celular, tablets, notebooks ou computadores de mesa. Presumiu-se que a campanha envolveria a comunidade universitária, de tal maneira que teríamos um aumento substancial nos números de votantes efetivos em relação à consulta de 2016 e, por conseguinte, aumento da representatividade da consulta eleitoral para a reitoria da UFU.

Felizmente, os números não presumem. Eles demonstram. Confira (Consulta 2016 Presencial / Consulta 2020 Remoto):

Se o número de pessoas em cada categoria aumentou nos últimos quatro anos, a “facilidade” da votação remota não se traduziu nos números de votantes efetivos, conferindo apenas em um aumento proporcional, nesta consulta de 2020, para o segmento docente.

No total, o resultado da consulta de 2020 indica: 1) a participação de pouco mais de um terço da comunidade universitária (36%) e, portanto, inferior ao total da consulta de 2016; e 2) uma relação inversamente proporcional entre as três categorias, ou seja, quanto menor a categoria, maior a participação e o peso relativo de cada voto, mesmo em um sistema paritário.

Então, a pergunta que surge é: a votação remota foi representativa?

A nossa resposta para esta questão está no título do texto. E a sua resposta, qual é?

16 de outubro de 2020