SOLIDARIEDADE É INSTRUMENTO DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL: SINTET-UFU E O TRABALHO DAS COZINHAS SOLIDÁRIAS

Por Raissa Dantas

Robson Luiz Carneiro, Coordenador Geral do SINTET-UFU e Lilian Machado de Sá, servidora aposentada e colaboradora das Cozinhas Solidárias de Uberlândia

 

A solidariedade dá tom à luta diária do SINTET-UFU, que durante toda a pandemia tem estreitado o vínculo com movimentos populares em apoio àquelas e àqueles em situação de vulnerabilidade social. O sindicato realizou, na última sexta-feira (10) a doação de uma nova remessa de alimentos para as Cozinhas Solidárias, que fornecem refeições de segunda a sexta para pessoas que vivem um período de insegurança alimentar.

Foram doados 270 quilos de arroz, 80 quilos de feijão, 5 fardos de macarrão, 48 litros de óleo, 1 fardos de sal e 3 baldes de tempero. Estes alimentos são destinados às 7 cozinhas que funcionam em Uberlândia nos bairros Dom Almir, Glória e Morada Nova, nas ocupações urbanas Fidel Castro, Maná e Santa Clara e, ainda, na favela Torre, próxima ao bairro Dom Almir.

A entrega foi feita pela coordenação geral do SINTET-UFU à Lilian Machado de Sá, servidora aposentada da UFU e ex-dirigente sindical no SINTET-UFU, uma figura fundamental na história e construção desse sindicato. Lilian milita há quase 2 anos em conjunto ao Movimento de Trabalhadores Sem Teto (MTST) de Uberlândia. Ela se tornou ponte entre o sindicato e os movimentos, auxiliando na detecção das necessidades mais imediatas da população periférica de Uberlândia e na busca de apoio por meio do sindicato e outros parceiros.

Em entrevista realizada com Lilian, a assistente social contou um pouco da motivação que encontrou para assumir essa frente de luta num relato emocionante. Machado relatou que “minha essência é estar com as pessoas, por isso eu não posso me afastar, me aposentar, porque eu não vivo sem as pessoas. E nesse momento de crise que estamos vivendo, as pessoas estão passando por um sofrimento muito grande porque estão desempregadas, porque não estão conseguindo manter suas famílias, porque estão sendo despejadas das suas casas. E eu sou assistente social, minha vida é trabalhar com gente. Então dentro dessa realidade, eu não podia ficar parada. A vida inteira algumas assistentes sociais sofreram o impacto de ouvir uma fala que o nosso trabalho era assistencialismo, mas eu me considero uma exceção. Nunca aceitei isso. (…) Nesse momento de crise, eu me vi rodeada de pessoas precisando de ajuda. Você para o carro no sinal, vem 5 pedindo coisas. E eu entendi que a primeira necessidade é dar comida. Não adianta fazer discurso, nada, se a necessidade fundamental básica tá ali. Aí eu comecei a usar todas as possibilidades que eu tinha para ajudar nisso. Eu tinha uma preocupação muito grande com essa questão do assistencialismo, porque eu acho que uma falha grande da esquerda foi com relação ao projeto de educação política. A gente abriu mão disso e as pessoas se tornaram vulneráveis. (…) Com essa preocupação, eu encontrei um dia o MTST. Ai eu falei ‘o meu caminho é por ai, eu vou me ligar a grupos que compartilham das mesmas ideias que a minha e a gente aumenta o nosso potencial de ajuda. Além de dar comida, a gente promove projetos de educação politica’. E é isso que a gente tem feito”.

Lilian esclareceu, durante a conversa, que as 7 Cozinhas Solidárias de Uberlândia funcionam com recursos totalmente provenientes de doações. As refeições são feitas por voluntárias das próprias comunidades, que fazem os almoços de segunda a sexta-feira. Antes as marmitas eram distribuídas também aos sábados e domingos, mas infelizmente, devido à redução dos recursos de doações, foi necessário ajustar a quantidade de dias de fornecimento. A assistente social relatou que a opção por montar cozinhas e oferecer alimentos prontos foi motivada pela carência alimentar e miséria que assola as famílias, uma vez que se fossem doadas cestas básicas muitas famílias não teriam condições de cozinhar, em virtude do custo elevado do gás de cozinha, por exemplo. Lilian relatou que o MTST atualmente se mobiliza na tentativa de construção de uma oitava Cozinha Solidária no condomínio de chácaras Douradinho, que hoje aglutina um verdadeiro cinturão de miséria e acumula diversas famílias em situação de insegurança alimentar.

Assista ao registro produzido pelo SINTET-UFU com Lilian Machado de Sá e saiba mais sobre o projeto:

 

Para doar às Cozinhas Solidárias, faça sua doação pelo PIX mtstmg@gmail.com ou deixe sua contribuição de alimentos não perecíveis na sede do SINTET-UFU de segunda a sexta das 9h às 17h (Rua Salvador, 995, Bairro Aparecida).

Entrevistamos, ainda, Robson Luiz Carneiro, coordenador do SINTET-UFU, para entender um pouco mais sobre as ações de solidariedade que o sindicato têm empenhado. Confira abaixo:

 

(Raissa) Há quanto tempo o sindicato é parceiro e apoia com recursos as cozinhas solidárias?

(Robson) O sindicato sempre apoiou, em sua história, os movimentos sociais e de trabalhadores aqui na região. Inclusive, é uma orientação estatutária que o sindicato participe ativamente construindo relacionamentos e apoio a outros movimentos. O entendimento é que a luta de classes não deve se restringir a apenas um grupo de trabalhadores e trabalhadoras, mas sim, em todos os aspectos, e ambientes, em que o conflito de classes esteja presente. Estes dois últimos anos, em virtude da pandemia e de todas as dificuldades que ela trouxe no campo social, essa atuação do SINTET-UFU foi mais intensificada e exigida. Somos referência na região para esses movimentos.

As cozinhas solidárias trabalham um problema cuja solução precisa ser mais imediata e efetiva, afinal, quem tem fome, não consegue se organizar para mais nada. Então desde o início da pandemia, quando se organizaram as cozinhas, o SINTET-UFU vem ajudando de todas as formas possíveis.

 

(Raissa) Que tipo de doações o SINTET entrega periodicamente para as cozinhas?

(Robson) Olha só, já contribuímos das diversas formas. Trabalhamos sempre com foco na necessidade imediata que se apresenta. Então na maioria das vezes arrecadamos e doamos alimentos para as refeições que são produzidas. Mas já houve momentos, por exemplo, que a necessidade era de utensílios para essa produção, como marmitex, por exemplo, então participamos com isso. Tivemos caso já, inclusive, de precisarem de material de construção, para organizar o espaço, em que também ajudamos. Em outro momento a necessidade era por aventais, toucas e máscaras, então apoiamos nisso.

 

(Raissa) Quais outras ações de solidariedade o sindicato passou a realizar desde o início da pandemia?

(Robson) Bom, para além dos movimentos que temos ajudado, estamos sempre de olho no que acontece em nossas bases, por exemplo, já identificamos algumas vezes que servidores mesmo, aposentados principalmente, estavam em situação de vulnerabilidade extrema, e em todos eles a gente acabou ajudando com cestas básicas, compra de alguns medicamentos, dentre outros.

 

(Raissa) Fale mais sobre como a gestão se sente e se entende ao realizar este trabalho e quais são os feedbacks que chegam da categoria.

(Robson) Bom, nós da Coordenação, sentimos algum alívio em podermos organizar isso tudo e ajudar, mas nos sentimos realmente tristes e preocupados com essa situação toda. O ideal, e a nossa grande luta, é para que ninguém necessite passar por estas dificuldades. Construir um mundo socialmente mais justo é o caminho que buscamos, mas infelizmente parece que esse horizonte está muito longe ainda. O sentimento geral é de dever cumprido. Não o dever de uma coordenação, mas o dever de qualquer ser humano que entende a solidariedade como o único caminho de fortalecimento e proteção às classes mais vulneráveis. Nós, que estamos na base da pirâmide social, só podemos contar com nós mesmos. Só temos a nós para nos proteger. Essa consciência é que precisa ser multiplicada e praticada: a solidariedade é a arma mais eficiente na luta contra o capital e contra a burguesia.

Quanto aos feedbacks que a gente recebe, em maioria considerável é confortante, uma resposta positiva. Temos vários servidores e servidoras que colaboram, que se dizem orgulhosos de nossas ações e compreendem que estamos no caminho certo, fazendo a coisa certa. Claro que existem aqueles poucos, pouquíssimos inclusive, e graças a Deus, que questionam, ou criticam, uma ação ou outra. Mas estes geralmente estão orientados por uma filosofia egocêntrica de vida. A gente escuta, absorve, mas tenta fazê-los entender a necessidade de sermos solidários. Mas no geralzão mesmo, a base é muito solidária. O SINTET-UFU é só um reflexo dessa visão humana que a maioria significativa dos servidores e servidoras da UFU possuem.

 

 

20 de setembro de 2021