Fala SINTET-UFU | 4 de maio de 2022

PROGRAMA FM UNIVERSITÁRIA – 4 de maio de 2022

 

(Lorena) Olá, companheiras e companheiros ouvintes da Universitária FM, eu sou Lorena Martins e está no ar o FALA SINTET-UFU.

 

(Lorena) No último domingo, dia primeiro de maio, celebramos o Dia do Trabalhador e da Trabalhadora. Uma data que, antes de qualquer coisa, simboliza a luta da classe trabalhadora ao longo da história pela conquista dos seus direitos. E o que você sabe sobre o primeiro de maio? Pra conversar com a gente sobre essa pauta, eu convido Alexandre Igrecias, que é historiador e assessor político do SINTET-UFU. Alê, seja bem-vindo.

 

(Alexandre) Olá Lorena, obrigado pelo convite, pela oportunidade de falar sobre esse tema com os ouvintes da universitária. Eu vou pedir licença pra ir direto ao assunto, está bom? O primeiro de maio é o dia do trabalho ou é o dia do trabalhador? Se você ouvinte ficou com dúvida na hora de responder, não fique confuso porque esse é um nome em disputa, que representa a luta de classes ao longo da história. E a gente vai dar voltar um pouquinho no tempo pra entender essa data e o que ela significa hoje. Vem comigo?

Voltando aos princípios da Revolução Industrial, nós temos trabalhadores e trabalhadoras sem qualquer direito garantido. A jornada de trabalho durava doze, quatorze, dezoito horas. As mulheres recebiam salários menores, às vezes metade do que os dos homens e as crianças de oito, dez anos trabalhavam nas fábricas. Muitas dessas crianças eram usadas pra limpar as máquinas porque elas cabiam lá dentro E aí eu nem vou dizer que tipo de acidente acontecia. Além disso não tinha auxílio doença, não existia aposentadoria. E se e se você não quisesse, se você não aceitasse essas condições tinha uma fila de desempregados na porta da fábrica esperando uma oportunidade pra trabalhar essas condições. Então foi assim que nasceram os sindicatos. A partir da luta contra essas condições terríveis de trabalho.

E uma das lutas centrais do movimento sindical no mundo todo foi a luta pela redução da jornada de trabalho. Pra que se fixassem em oito horas por dia com a seguinte premissa: cada trabalhador e cada trabalhadora tinha direito de trabalhar oito horas, descansar oito horas e ter oito horas de lazer. Em 1886 a federação dos trabalhadores dos Estados Unidos convocou uma greve nacional pra lutar pela redução de jornada e convocou esses protestos pro dia primeiro de maio. Centenas de milhares de trabalhadores atenderam esse chamado. Só que em Chicago a coisa não saiu muito bem. Teve repressão que resultou na morte de quatro trabalhadores e teve centenas de feridos. Sete manifestantes foram condenados à morte, o que causou uma comoção internacional. O julgamento depois, anos depois, foi anulado 1893, quando só três dos sete manifestantes ainda estavam vivos e foram colocados em liberdade. Em 1891, o congresso da segunda internacional socialista definiu o primeiro de maio, como o dia internacional dos trabalhadores ou o dia do trabalhador. Que ele deveria ser marcado no mundo todo por greves, manifestações, como um dia de luta, né? E aí a data pegou. Teve manifestações massivas no mundo todo. Só que aí patrões e os governos eles viam com perigo esse tipo de imobilização. Todo ano ter uma data de protesto na agenda dos trabalhadores é algo perigoso. Então os governos e os patrões transformaram essa data em feriado e isso pegou em diversos países. Mais de 160 países tem o primeiro de maio como feriado. E aí houve a disputa em torno do nome. O dia do trabalhador ficou marcado como dia do trabalho. Onde a chefia dá um tapinha nas nossas costas enquanto lucra com a nossa exploração. E isso com o apoio de muitos Sindicatos pelegos que ajudam nessa tarefa de distorcer o significado histórico da data. Um parênteses: se você lembrou do termo pelego como aquele da cavalaria é isso mesmo que o termo significa. O sindicato pelego é aquele que tenta deixar mais confortável o lombo de quem está sendo montado e o do patrão que está montando.

Voltando aqui pra pra nossa pauta, depois de tantos anos em disputa qual é o significado do primeiro de maio nos dias de hoje? Depois de reforma trabalhista, terceirização irrestrita, dos aplicativos, a gente consegue se enxergar enquanto classe? Essa é uma reflexão que a gente precisa fazer no movimento sindical. O movimento sindical do servidor público, do operário que baixa cartão, do trabalhador CLT, consegue responder a esse cenário de precarização? Esse é o desafio do movimento sindical hoje como o movimento sindical e pra além da sua burocracia como compreender as questões de raça, de gênero e de classe e como é elas estruturam as opressões nos dias de hoje.

Os sindicatos eles precisam se reinventar pra entender os novos desafios que o mundo impõe. Porque no ritmo que os desastres causados pela emergência climática estão indo, daqui a pouco nem mundo vai ter pra gente dividir as riquezas. Então no mês de maio você ouvinte precisa compreender que trabalhadora é o entregador de aplicativo que bate no seu portão, a médica que te atende na UAI, o professor da sua escola, da escola dos seus filhos, a camelô… Ou a gente se junta e se organiza pra dar um fim nesse sistema que explora e obriga o povo a procurar osso no lixo pra se alimentar, morar no morro que desliza com as tempestades ou a gente vai voltar pros tempos da revolução industrial. Porque o desmonte dos direitos trabalhistas, ele está cada vez maior e a gente precisa se organizar pra dar um fim nisso.

Então com esse chamado eu me despeço e agradeço a oportunidade de falar aos ouvintes da Universidade FM. Então obrigado Lorena, obrigado pela oportunidade. Vamos à luta porque somos trabalhadores e precisamos mudar a realidade que a gente está inserido.

 

(Lorena) Obrigada, Alexandre, por trazer tantas informações importantes sobre esse tema pro programa de hoje.

E esse foi o FALA SINTET-UFU dessa semana! Você pode conferir mais informações em nosso site e em nossas redes sociais. Ótima semana a todas e todos, se cuidem e até o próximo programa!

 

 

 

3 de maio de 2022