Fala SINTET-UFU | 11 de maio de 2022

PROGRAMA FM UNIVERSITÁRIA – 11 de maio de 2022

 

(Lorena) Olá, companheiras e companheiros ouvintes da Universitária FM, eu sou Raissa Dantas e está no ar o FALA SINTET-UFU.

Nessa edição do FALA SINTET, a gente vai conversar sobre maternidade e mundo do trabalho.

As mulheres lidam com uma carga social histórica de que precisam dar conta de tudo em tempo integral. E nós percebemos que durante a pandemia isso foi potencializado.

Um estudo de 2020 do Centro de Pesquisa Econômica e Social da Universidade do Sul da Califórnia, apontou que 32% das mães passaram a se sentir esgotadas psicologicamente desde a pandemia. Outra pesquisa da Ipsos com a ONU Mulheres aponta que a pandemia aumentou ainda mais a diferença na divisão de tarefas não remuneradas no Brasil.

Com isso a gente entende que as mulheres são as principais responsáveis pelo trabalho invisível de cuidar dos filhos e da casa.

Pra conversar com a gente sobre essa pauta, eu convido Bruna Gomes, que é mãe do Benjamin e mestranda em Ciências Sociais na UFU, onde pesquisa as transformações do mundo do trabalho no Brasil. Bruna, seja bem-vinda.

 

(Bruna) Olá ouvintes do FALA SINTET-UFU. Eu sou Bruna Gomes, mestranda em ciências sociais e gostaria de iniciar essa nossa conversa agradecendo o SINTET por este convite, né? A pensar o dia das mães enquanto uma data política, enquanto uma oportunidade pra gente debater desigualdades e as opressões que a maternidade, na nossa sociedade, imprime as mulheres. Eu escolhi focar essa reflexão na relação entre maternidade e trabalho porque eu considero que o trabalho é central pra gente compreender a situação das mulheres que são mães hoje por diversos motivos. Mas em primeiro lugar, porque falar de maternidade, é falar de trabalho de cuidado, que a partir da divisão sexual do trabalho é atribuído as mulheres como algo natural, como algo que é inerente à condição de ser mulher. E além dessa separação entre trabalho de homem e trabalho de mulher, a divisão sexual do trabalho também gera uma hierarquização dos trabalhos. Então os trabalhos que são tidos como femininos são vistos como menos importantes. Esse trabalho de cuidado, então, apesar dele ser central, né? Pra manutenção da vida das pessoas ele é também historicamente desvalorizado, invisibilizado e na maioria das vezes não remunerado. Cuidar de uma criança é um exercício complexo, né? Que envolve atividades que vão desde alimentação à cuidados com educação e saúde. Então quando a gente joga todas essas responsabilidades pra cima das mães, o resultado são mulheres sobrecarregadas, vulneráveis, adoecidas e com menos oportunidades no mercado de trabalho. E aí, inclusive falando agora desse outro aspecto, dessa relação entre maternidade e trabalho, que é a situação das mulheres que são mães no mercado de trabalho, nós temos também um cenário desigual e que tem se agravado nos últimos anos, principalmente com a aprovação da reforma trabalhista de 2017 e com a crise sanitária pela qual nós passamos nos últimos dois anos. Quando falamos na situação das mulheres no trabalho, talvez o primeiro aspecto que nos vem à mente seja a diferença salarial entre homens e mulheres. E esse é um aspecto muito importante nesse debate, né? Já que os indicadores do IBGE mostram que atualmente as mulheres ganham cerca de 20% a menos do que os homens mesmo quando nós ocupamos os mesmos cargos e realizamos as mesmas tarefas do que eles. Mas esse não é o único fator que revela essas desigualdades de gênero no mercado de trabalho, as novas modalidades de contratação foram inseridas pela reforma trabalhista, como trabalho intermitente, ampliação do trabalho em tempo parcial, além da própria intensificação da jornada de trabalho, né? Que essa reforma implementou, aumentou o tempo que os trabalhadores precisam dedicar ao mercado e isso dificulta ainda mais a participação das mães no mercado formal de trabalho. Então, mesmo antes da pandemia, as mulheres já tinham uma maior probabilidade em relação aos homens de mudar de situação de ocupada pra inativa. Mas a pandemia de COVID-19 intensificou ainda mais essas desigualdades. Um relatório de 2021 da comissão econômica pra América Latina e o Caribe, a Cepal, revelou que um ano de crise sanitária gerou um retrocesso de mais de uma década nos níveis de participação no mercado de trabalho das mulheres destes países. Segundo essa pesquisa, a falta de acesso a creches e escolas foi um fator determinante pra um grande aumento de das mulheres da força de trabalho. E as consequências desse retrocesso vão desde perda de autonomia financeira, aumento de procura de trabalhos informais em condições, né? Mais vulneráveis e degradantes. Bom, eu acredito então que esses são alguns pontos interessantes pra gente refletir nesse dia das mães, mas entendendo que a relação entre maternidade e trabalho é complexa e envolve diversos fatores. Eu agradeço mais uma vez o convite do SINTET, espero que a gente se encontre novamente em breve nos debates e nas lutas por uma melhor condição de vida das mulheres, das mães e das nossas crianças. Um abraço a todos.

 

(Lorena) Bruna, eu agradeço muito a sua presença no programa de hoje!

Esse foi o FALA SINTET-UFU dessa semana. Você pode conferir mais informações em nosso site e em nossas redes sociais. Uma ótima semana a todos e todos. Se cuidem e até o próximo programa.

 

 

10 de maio de 2022