25 de julho | Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha e Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra

Por Andreia Sousa de Jesus

 

Texto disponível na edição 513 de Ligeirinho

 

O Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha é celebrado no dia 25 de julho, mesma data do Dia Nacional de Tereza de Benguela[1] e da Mulher Negra, no Brasil. Ambas as datas nos convidam para uma reflexão sobre a vida das mulheres negras, ao enfatizar suas lutas históricas que permitem a sobrevivência à uma estrutura social racista e misógina.

Considerada a “base da sociedade”, a mulher negra é, ao longo da história, vulnerabilizada em suas condições sociais. Se no período escravocrata, num ato de heroísmo, abortava para não gerar escravizados, na atualidade é o esteio que sustenta, na maioria das vezes, a família sozinha. Numa ironia do destino capitalista neoliberal e racista, os homens dessa família são, lembrando Lélia Gonzalez, “objeto de perseguição policial sistemática”. Levando em consideração que o sistema prisional no Brasil é um dos principais problemas que atravessa a população negra, observa-se que a sua ocupação é constituída, principalmente por homens negros.

Nesse sentido, a mulher negra é o calço que tenta imobilizar a necropolítica provocada pela violência do Estado, ao abastecer, semanalmente, celas com suprimentos de alimentação e limpeza. Outros exemplos de violência se destacam na vida dessas mulheres: segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2022, apesar da redução em 1,7%, das 1.341 vítimas de feminicídio em 2021, 831 eram mulheres negras. Dos 66.020 estupros ocorridos no Brasil em 2021, 34.462 vitimizaram mulheres negras, e 31.558, mulheres brancas. Em pesquisa realizada pelo movimento Potências Negras, em 2021, foi identificado que 63% das mulheres negras entrevistadas foram discriminadas em processos seletivos para vagas de emprego. Por meio de buscas rápidas, é possível verificar tantas outras violências, com diferentes variáveis, e perceber a ocupação “inevitável” dessas mulheres nas principais estatísticas.

As políticas públicas, tão cruciais para a equidade social, contraditoriamente, podem funcionar como aliadas na reincidência de violências institucionais contra as mulheres negras. A baixa representatividade política dessas mulheres também é um fator que contribui para que esse cenário não se altere.

A eleição da vice-presidenta Francia Márquez Mina e do presidente Gustavo Petro, na Colômbia, representa mais um elemento da virada política progressista que vem ocorrendo na América Latina, no que diz respeito aos quadros de liderança. Francia Márquez Mina, assim como Tereza de Benguela, são mulheres que ultrapassam barreiras simbólicas e materiais com a finalidade de lutar pela justiça social em seus territórios e romper com a lógica de morte e violência instituída historicamente.

Não há sinalização de uma mudança radical, como necessário. No entanto, pelos limites da própria política institucional e pela repetição das violências extremas assistidas, o fato permite suspiro por meio da conquista de um governo que retorna para o povo – o que não é possível com a ausência das mulheres negras.

Assim, o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra são fundamentais para, além de refletir as condições supracitadas, criar novas formas políticas de fortalecimento das democracias, às quais não podem funcionar em plenitude, se ignora as relações raciais e de gênero.

 

Andreia de Jesus é doutoranda em Ciências Sociais pela UNESP Marília, mestre e graduada na mesma área pela UFU.

 

REFERÊNCIAS

Mulheres Negras. Composição: Eduardo Taddeo. Intérprete: Yzalú. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=122kwdWN-v0&list=RD122kwdWN-v0&start_radio=1

FÓRUM BRASILEIRO DA SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2022. Disponível em: https://forumseguranca.org.br/anuario-brasileiro-seguranca-publica/

[1] Tereza de Benguela foi uma líder quilombola que viveu durante o século XVIII no Quilombo do Piolho (ou Quilombo do Quariterê) – divisa do Mato Grosso com a Bolívia. Além de símbolo de resistência à escravidão, Tereza representa, na atualidade, a memória e a lida das mulheres negras em meio às opressões cotidianas.

25 de julho de 2022