Fala SINTET-UFU | 16 de novembro de 2022

PROGRAMA FM UNIVERSITÁRIA – 16 de novembro de 2022

 

(Raissa) Olá, companheiras e companheiros ouvintes da Universitária FM, eu sou Raissa Dantas e está no ar o FALA SINTET-UFU.

 O próximo final de semana de Uberlândia será marcado por manifestações políticas pela legalização da maconha e em celebração ao dia da Consciência Negra. Foi feito um chamamento unificado para um ato que vai acontecer sábado, dia 19 de novembro, às duas e vinte da tarde na praça Ismene Mendes, antiga Tubal Vilela.

Convidamos Wallace Alves, que é engenheiro ambiental e sanitarista e militante no movimento negro e antiproibicionista para falar um pouco sobre a pauta desse dia de lutas, que trata da legalização das drogas e do fim do extermínio da juventude negra. Seja bem-vindo, Wallace.

 

(Wallace) Salve Raíssa, ouvintes da Universitária FM e audiência aqui do Fala SINTET. É muito bom tá aqui falando sobre esse tema no mês da consciência negra, né? Ainda mais pela nossa vontade de que a consciência negra seja uma prática, o combate antirracista seja uma prática pro ano inteiro. Então quando a gente fala de racismo Brasil a gente tem que comentar sobre o racismo institucional que priva pessoas negras do acesso a serviços públicos básicos que sejam específicos pra essa população, que priva o acesso à justiça, à representação política, à oportunidade de emprego, renda, estudo, né? De modo formal, racismo ambiental que naturaliza o fato de pessoas negras e periféricas viverem sem acesso ao saneamento básico, água tratada, na rua de terra totalmente apartado da cidade e hoje nesse episódio a gente traz o debate específico da crise humanitária que é o genocídio negro, que é a farsa da guerra às droga que aqui no Brasil serve de justificativa jurídica e legal pra que pessoas negras e populações negras periféricas continuem sendo exterminadas. Tanto pelo encarceramento, quanto pela execução em nome do estado. Hoje de uma população carcerária que tem centenas de milhares de pessoas que já é a segunda do planeta, nós temos 66% da população composta por pessoas negras, o que não reflete o percentual da população geral, né? O que comprova que existe um encarceramento em massa de pessoas negras em detrimento das pessoas brancas, como se pessoas brancas não cometessem crimes. E crimes, quase 30% no topo da lista de motivos pra encarcerar pessoas no Brasil está o tráfico de drogas. Então 30% de todas as prisões efetuadas no país é sob justificativa do tráfico de drogas, mais da metade desse percentual são de jovens aprisionados que ali vão viver através dessa dinâmica de encarceramento que vai marcar a sua vida inteira, porque cessa a possibilidade de um emprego, formação e renda e ainda coloca um estigma social nesse corpo que geralmente é um corpo negro, periférico e de juventude. Né? E quase 40% desse desses presos por tráfico de drogas estão em situação de prisão preventiva quando elas não tiveram acesso meramente a um julgamento pra saber se era válido, se era justo elas estarem nessa situação. Isso vem no Brasil como uma justificativa social que vai mudando conforme a época, mas que tem um único objetivo que é eliminar a população negra do Brasil. Seja por um processo social de assimilação, né? Que tem aí o quadro da redenção, aquela tendência a branquear a população. Ou seja, pelas medidas diretas de ministrar a violência por via institucional pra encarcerar ou matar. A gente tá falando de uma pseudociência que é uma corrente pseudocientífica que surgiu lá no século dezoito e que ainda tem resquícios vigorando aqui, né? Nas nossas justificativas sociais que é o naturalismo, que é naturalizar que corpos negros tem mais propensão pro crime, seja pela presença de traços negroides, seja pela presença desses corpos em determinados territórios que são trazidos como territórios periféricos, marginalizados, favelados, as comunidades. São pessoas que moram ali, são intrinsecamente bandidas. O tráfico hoje ele cumpre um papel de extermínio muito maior dessas populações negras seja pelo encarceramento ou pela execução sumária da polícia militar do que necessariamente o abuso de drogas, ou seja, muito mais gente morre, perde a vida e perde condição de vida por conta do combate ao tráfico de drogas, e sobretudo pessoas negras, do que pelo uso de droga em si. Então é apenas uma farsa, apenas uma justificativa e é por isso que nós precisamos encampar pela desmilitarização da polícia, pelo antiproibicionismo, a legalização da maconha, pra que acabe com essa justificativa social pro estado continuar aprisionando e matando pessoas negras. É por isso que nesse mês da consciência negra é importante engajar, ir pra rua, discutir e principalmente unir pautas que são correlatas, né? E é por isso que eu reforço que a nossa população negra, nossa juventude, as entidades do povo se unam numa marcha pela maconha e pela consciência negra que vai ocorrer aqui em Uberlândia no próximo dia 19 de novembro, no sábado, sábado que vem, às 14h20, nós vamos fazer a concentração dessa marcha na antiga praça Tubal Vilela, atual Ismene Mendes. Então, contamos com todos e todas lá porque esse debate interessa a todo mundo.

 

(Raissa) Wallace, nós agradecemos muito a sua participação.

E esse foi o Fala SINTET-UFU dessa semana. Você pode conferir mais informações em nosso site e em nossas redes sociais. Uma ótima semana a todas e todos e até o próximo programa.

 

11 de novembro de 2022