Fala SINTET-UFU | Branquitude: qual o papel das pessoas brancas na luta antirracista? | 22 de março de 2023

(Raissa) Olá companheiras e companheiros ouvintes da Universitária FM. Eu sou Raissa Dantas e está no ar o Fala SINTET-UFU.

Nas últimas semanas, casos de racismo ocorridos no interior da Universidade Federal de Uberlândia catalisaram debates importantes, incluindo o papel da pessoa branca na luta antirracista. Na última terça-feira, dia 21 de março, foi dia internacional pela eliminação da discriminação racial, então a partir disso, pensamos por quê não pautar esta questão aqui também no Fala SINTET. Você sabe o que a branquitude? E como podemos refletir sobre o papel individual da branquitude na luta antirracista, até mesmo dentro das instituições?

No Fala SINTET-UFU dessa semana convidamos Fernanda Zeni de Avila para comentar um pouco sobre esse tema. Fernanda é assistente social e mestranda em Educação Profissional em Saúde na Fundação Oswaldo Cruz, onde pesquisa temas relacionados à branquitude, à ideologia, ao capitalismo e à saúde. Seja bem-vinda, Fernanda.

(Fernanda) Olá pessoal, me chamo Fernanda Zeni de Avila e fui convidada pelo Lucas Pires pra falar um pouco sobre o tema de hoje no Fala SINTET, sobre a branquitude. Eu faço parte da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio da Fundação Oswaldo Cruz. Faço o mestrado profissional. Sou uma das alunas. E a gente está realizando uma pesquisa que está em curso ainda sobre orientação da professora doutora Carla Macedo Martins, onde a gente busca responder como funciona, como o funcionamento do capital no Brasil determina a branquitude brasileira, né? Entendendo branquitude enquanto expressão da ideologia burguesa.

Autoras como a Maria Aparecida da Silva Bento, a Lia Vainer, elas trazem que a branquitude, ela é uma identidade dos sujeitos brancos tomada como enorme padrão a ser seguido por todos e que carrega privilégios sociais econômicos e políticos né? Ou seja, a branquitude não é o contrário de negritude, por exemplo não é uma identidade positiva que precisa ser reafirmada. Pelo contrário, a branquitude, assim como racismo, precisam acabar. Mas como construir essa nova sociabilidade, com sucesso consistentes e solidários, se o capitalismo nos aliena de nós mesmos e de nossos semelhantes?

Então a forma de se ver e ser sujeito branco no Brasil ela é formada a partir de uma relação histórica de desumanidade com pessoas não brancas. Essa relação de sujeitos que são considerados mais humanos que outros, sujeitos que podem ser mais explorados que outros, então ela se estende em todas as instituições e forma o pensamento de quem define como vai ser tratado casos de racismo, por exemplo, né? A autora Maria Aparecida Bento, ela fala sobre pacto narcísico da branquitude, que é essa capacidade de brancos se protegerem enquanto grupo com privilégios raciais. E isso está impregnado na consciência de trabalhadores, na consciência daquelas pessoas que vão tomar as decisões institucionais por exemplo, né? Porque a vivência material que vai formando a nossa consciência. Quanto mais consciente a gente tiver da história de como chegamos até aqui, mais a gente vai estar conseguindo ir contra a lógica do capitalismo, porque é interessante que brancos não se somem. Pro capitalismo é interessante que brancos não se somem à luta de negros contra o racismo. Afinal, uma das hipóteses da nossa pesquisa é de que não há capitalismo sem racismo. Né? Então não é uma questão, apenas uma decisão individual, enquanto pessoa branca. Mas também envolve isso, claro, um posicionamento individual antirracista diante das situações. Mas essas reflexões e importância de se colocar na luta, ela está ligada a um contexto maior, coletivo, né? De luta de classes também. Então problematizar o racismo é uma tarefa de todos. Porque a branquitude enquanto ideologia burguesa nos forma sujeitos sociais brancas e brancos, com uma falsa consciência social. De uma realidade que esconde as contrações de ser branca e branco nessa sociedade. Naturalizando desigualdades raciais, dentre elas o fato de que a braquitude não quer ser racializada. Por exemplo, as pessoas brancas não querem ser chamadas de brancas. Como já apontou o Silvio Almeida no livro Racismo Estrutural. E outros desigualdades, né, que vão sendo naturalizadas a partir da ideologia que universalizam a nossa estética, por exemplo, a estética branca como símbolo de beleza. Então é necessário e imprescindível que entre nós trabalhadores, brancos e brancas, a gente discuta o que é ser branco no Brasil e problematize isso. E se coloque em luta, porque aqueles trabalhadores que já são racializados, como negros e indígenas, já sofrem essa pressão. E se nós temos uma intensificação na exploração do trabalho no Brasil é por conta do racismo.

(Raissa) Fernanda, nós agradecemos muito a sua participação. E esse foi o FALA SINTET-UFU dessa semana! Você pode conferir mais informações em nosso site e em nossas redes sociais. Ótima semana a todas e todos e até o próximo programa!

21 de março de 2023