Fala SINTET-UFU | 59 anos do golpe de 1964: Heranças do Autoritarismo | 29 de março de 2023

(Raissa) Olá companheiras e companheiros ouvintes da Rádio Universitária. Eu sou Raissa Dantas e está no ar o FALA SINTET-UFU.

Esse sábado, primeiro de abril, marcou 59 anos da ditadura civil empresarial militar brasileira. Nesse 2023 vivemos uma conjuntura em que movimentos sociais reivindicam justiça contra os crimes cometidos pelo governo Bolsonaro, em especial o grito por “SEM ANISTIA”. Para comentar um pouco sobre as heranças do autoritarismo brasileiro, convidamos Alexandre Igrecias, que é historiador e assessor político sindical. Seja bem-vindo Alê.

 

(Alexandre) Olá Raissa. Olá ouvintes da Universitária FM, é um prazer poder tá aqui mais uma vez conversando com vocês. No dia primeiro de abril, dia da mentira, se completam 59 anos do golpe civil militar de 1964. Essa é uma mentira que durou 21 de ditadura e que continua sendo contada até os dias de hoje, quando se elogia o golpe, quando se diz que não houve corrupção, quando se fala do milagre econômico. É bom frisar que não houve corrupção porque a imprensa era censurada, que não se podia denunciar, porque quem ousasse levantar a voz contra o regime, era perseguido, preso e torturado. Existem vários estudos recentes que mostram a corrupção dos militares com empreiteiras e multinacionais. Houve um milagre econômico que oculta os pecados das condições terríveis pra vida da classe trabalhadora. Enquanto os empresários se lambuzavam em lucros imensos e manchados pela corrupção, o povo se amontoava em favelas. Eram expulsos de terras no êxodo rural. Quem aqui não teve um pai, uma avó, um parente que veio pra cidade nesse período? Quando os trabalhadores não morreram nos canteiros de obra das Megas Construções superfaturadas feitas durante a ditadura, esperando a sua fatia do bolo econômico que cresceu, mas só foi para os ricos. A nossa democracia segue até hoje assombrada pelos fantasmas da ditadura, a estrutura policial que foi construída na lógica do combate ao inimigo interno mudou do combate aos comunistas para o combate aos pobres, pretos, favelados, os porões da ditadura se ampliaram e o encarceramento em massa se transformou em uma lucrativa indústria alimentada pela guerra às drogas. Após o golpe parlamentar de 2016 e os anos de corrosão da democracia e militarização do governo, durante os anos de Bolsonaro no poder, precisamos pensar a redemocratização que não cometa os mesmos erros da anistia geral e irrestrita que perdoou torturadores e manteve os golpistas com direitos políticos sendo o centrão da vez de cada um dos governos. Esses mesmos que estão hoje no centrão, alugando o seu apoio, eram os políticos da Arena, que era o partido base de sustentação ditadura militar. Os ataques golpistas do dia 8 de janeiro mostram que o perigo autoritário, ele é concreto e ele não está disposto a sair de cena. A indústria de fake news continua a todo vapor. Se o pânico moral da ditadura era que os comunistas comiam criancinhas, atualmente esse pânico está na disseminação da anticiência de que a vacina é maléfica, que ela vai implantar chip nas pessoas, que os LGBTs vão destruir as famílias e que as pautas antirracistas e contra as opressões, as pautas dos direitos humanos, tiram a liberdade do cidadão de bem que não pode mais seus preconceitos livremente. Enquanto os golpistas continuarem armados e com disposição de matar, tanto pessoas quanto o estado democrático de direito, enquanto esses golpistas não forem contidos, a gente não pode sossegar. Nos últimos três anos o número de armas triplicou e chegou a quase um número de um milhão na mão de colecionadores, caçadores e atiradores. A gente precisa responsabilizar os golpistas pelo genocídio dos Yanomami, do genocídio da pandemia, pelo desmonte da democracia. Enquanto a gente não fizer esse acerto de contas com o nosso passado, seja com a maldita herança, escravista, a herança da ditadura militar. E agora recentemente com o golpismo que está instalado entre nós não tem perspectiva de futuro, de construção de uma sociedade mais justa. A nossa transição precisa ser muito bem pensada e pra que ela seja completa a gente precisa dizer bem claramente, ela precisa ser sem anistia.

 

(Raissa) Alê, nós agradecemos muito a sua participação! E esse foi o FALA SINTET-UFU dessa semana. Você pode conferir mais informações em nosso site e em nossas redes sociais. Uma ótima semana a todos e todos e até o próximo programa!

29 de março de 2023