NOTA PÚBLICA DO SINTET SOBRE A MORTE OCORRIDA NA PORTA DO PRONTO SOCORRO DO HC-UFU

 

A morte de um trabalhador aposentado,na porta de um Pronto Socorro, à espera de atendimento, é algo que não devemos aceitar como normalidade ou como mais um fato corriqueiro de um sistema falido. Algumas perguntas precisam ser feitas pelos órgãos sérios de imprensa, e precisam ser respondidas pelas autoridades envolvidas:

Por que o paciente foi regulado para o HC-UFU, mesmo havendo amplo conhecimento da superlotação, e não para o Hospital Municipal?
Por que não temos até hoje o hospital regional que poderia ter atendido esse cidadão a tempo de tentar evitar a morte?

Por que Uberlândia ainda não tem o SAMU, que prestaria um atendimento mais especializado ao paciente?

É sabido, e tem sido divulgado, que o Hospital de Clínicas vem enfrentando sérias dificuldades com a superlotação do seu pronto socorro. 

Mas essa superlotação não se deve somente ao fato da inexistência de um hospital regional e muito menos pelo adoecimento endêmico da população. Ela é resultado de uma política equivocada na regulação de leitos, negociada entre o Hospital de Clínicas e as Prefeituras da região (hoje o HC-UFU assiste casos complexos e também não complexos de 27 municípios).

Por outro lado, a Gestão da Universidade Federal de Uberlândia apostou num modelo privatista de gerenciamento que privilegia a produção, o alcance de metas – através da empresa Ebserh. Abandonou-se a própria história do Hospital de Clínicas, que foi construída num conceito de atendimento humanizado, em acordo com as políticas do SUS e da priorização do ensino/aprendizagem dos alunos no hospital  escola.

Os trabalhadores da saúde estão adoecidos, física e mentalmente, sobrecarregados, em condições periclitantes de trabalho, com processos remodelados de forma a atender uma redução de custos absurda que coloca em risco de segurança jurídica o trabalhador e o próprio Hospital, e em risco de morte o paciente. A força de trabalho reduzida dentro do HC hoje é resultado da terceirização das responsabilidades pela contratação de uma Empresa de Serviços Hospitalares, cujo modelo de gestão utilizado afasta completamente o Hospital de Clínicas dos objetivos para o qual foi criado: o ensino, a pesquisa, a extensão e o atendimento humanizado com foco no bem estar social previsto pelo SUS. 

O HC, seus trabalhadores e trabalhadoras, assim como os cidadãos que precisam dos seus serviços, pedem socorro. E este socorro não virá por outro caminho que não seja o resgate de sua identidade institucional. 

Não é possível recuperar o Hospital de Clínicas sem retomar o caráter democrático que faz parte de sua história; não é possível garantir bom atendimento sem garantir boas condições de trabalho e recursos para que o hospital funcione; não é possível ser referência para cerca de dois milhões e meio de cidadãos sem pelo menos a recomposição da força de trabalho; não é possível gerir um hospital dessa magnitude sem autonomia política, administrativa e financeira. Com efeito, torna-se necessário alinhar o modelo de gestão à realidade regional na qual o HC-UFU está inserido e atua.

O SINTET-UFU lamenta profundamente a morte desse homem idoso, ocorrida recentemente às portas do Pronto Socorro e reforça, como vem fazendo sistematicamente nos últimos anos, que as autoridades institucionais, políticas e até mesmo judiciárias precisam discutir a saúde pública de Uberlândia e região, convocando inclusive o Governador do Estado Romeu Zema para dar explicações sobre a falta de atenção e aporte financeiro adequado à saúde e educação. A saúde é um direito de todas e todos, é extremamente revoltante que uma situação como essa ocorra. 

Os cuidados à saúde de Uberlândia não são responsabilidades apenas da Universidade Federal de Uberlândia, pelo contrário, são antes de tudo, atribuições dos poderes executivos municipal e estadual.

Por que não temos ainda o hospital regional? Por que o Pronto Socorro está lotado? Por que a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares não atendeu ainda ao dimensionamento da força de trabalho do HC-UFU? Por que o poder público tem se calado diante deste quadro assustador que se tornou a saúde em Uberlândia?

São perguntas que precisam ser respondidas por quem é de direito e são situações que precisam ser resolvidas urgentemente. Do contrário, nos resta aguardar notícias de novas mortes em situações tão absurdas.

 

Coordenação Colegiada

2 de agosto de 2023