Fala SINTET-UFU | 22 de novembro de 2023 | O racismo na realidade social

PROGRAMA FM UNIVERSITÁRIA – 22 de novembro de 2023

(Raissa) Olá, companheiras e companheiros, aqui é Raissa Dantas e nesse Fala SINTET-UFU a gente conversa sobre o Dia da Consciência Negra. Sintonize suas lutas.

A questão racial é um tema complexo e presente em diversas esferas da sociedade, de maneira transversal. O racismo está presente não apenas nas relações interpessoais, mas está enraizado na estrutura social, nas instituições e nas relações econômicas. É importante debater como o racismo se manifesta em nossa organização material imediata, afetando a vida cotidiana das pessoas, suas oportunidades de trabalho, acesso à educação, saúde e justiça. Compreender a dimensão estrutural do racismo é fundamental para promover a igualdade racial e combater as desigualdades históricas que afetam as pessoas negras.

No Fala SINTET-UFU dessa semana convidamos Lucas Gondran para aprofundar nesse assunto com nossos ouvintes. Lucas é negro, comunista, historiador e psicólogo, e milita na Intersindical e no coletivo sindical “Nós por nós – resistir e lutar”.

Seja bem-vindo, Lucas.

(Lucas) Saudações, ouvintes do Fala SINTET-UFU. Hoje então eu vou falar sobre racismo, né? Sobre essa forma de relação social que, diferente do que muitas vezes é propagado, é dito, não é algo que fica restrito ao preconceito interpessoal, não é algo que fica restrito às discriminações. Mas ao contrário, é algo que está embricado na própria realidade social, nos seus fundamentos mais básicos. Fundamentos esses, que é importante dizer, são capitalistas. Nós vivemos numa sociedade capitalista. Em termos práticos, objetivos e diretos, o que isso significa? Significa que a maior parte da população é como nós, que tem que vender a sua força de trabalho em troca de um salário, enquanto uma pequena minoria acumula riquezas e privilégios a partir do nosso trabalho. E o que isso tem a ver com racismo? O racismo, quando a gente vai olhar para ele para além do preconceito, ou seja, quando a gente vai olhar para ele para além do preconceito, ou seja. A gente vai olhar pra ele na divisão racial do trabalho, onde que os negros trabalham, onde que os negros estudam, onde que os negros moram, e mais do que isso, quais são as condições desses espaços de trabalho, estudo, lazer, moradia, a gente vê que são necessariamente mais precários do que o resto da população branca, do que o resto da classe trabalhadora branca. E por que isso acontece, e mais do que isso, né, qual é a relação disso com o capitalismo? É uma relação de necessidade exploratória. Quanto menos forem remunerados, quanto menos riqueza social a população negra acessar, maior será a quantidade de riqueza acumulada por aqueles que vivem da acumulação de riquezas da acumulação do nosso trabalho. E portanto, nesse processo social exploratório que se desenvolve, que se exaspera, que se intensifica a partir do racismo, ou tem no racismo esse ponto de intensificação, vão surgir. Gira aí também justificativas, justificativas como a crença socialmente arraigada de que as pessoas negras seriam mais aptas ao trabalho manual, de que as pessoas negras seriam intelectualmente não tão desenvolvidas quanto pessoas brancas, vê, existe um conjunto de discursos que nos atravessam, que formam as nossas subjetividades e que eles estão em função da necessidade desse pequeno grupo, esse sim, 99,9% branco, de nos explorar, de nos manter nessa situação de subjugação e viver no nosso trabalho, enquanto a gente fica aqui embaixo, digamos assim, vivendo com pouco, com as migalhas e no meio dessas migalhas há aqueles que recebem menos migalhas, porque quanto menos migalhas receberem mais acúmulo por parte dos acumuladores, dos bilionários, dos burgueses, dos empresários, dos Elon Musk’s. E aí, nesse sentido, quando a gente olha para o racismo dentro dessa perspectiva, a gente então consegue compreender que a superação dele não se dá através da apenas, não que isso não seja importante, mas apenas de uma conscientização da sua existência, dos preconceitos, dos estereótipos sobre as populações negras. A gente entende que é preciso lutar também, se organizar também, para afetar essa estrutura, portanto igualdade salarial, portanto o fim das privatizações dos presídios como está acontecendo agora nesse momento no Brasil, pela revogação da lei de drogas que amplificou de maneira absurda o encarceramento que é majoritariamente sobre a população negra no Brasil, o que a gente chama de encarceramento em massa, a regulamentação das comunidades de bolas, de lombolas, o fim da opressão policial, etc, etc. Então esses mecanismos, esses aspectos estruturais.

(Raissa) Lucas, muito obrigada pela participação. Esse foi o FALA SINTET-UFU dessa semana! Você pode conferir mais informações em nosso site e em nossas redes sociais. Ótima semana a todas e todos, viva os 33 anos de SINTET-UFU e até o próximo programa!

22 de novembro de 2023