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Direção presta esclarecimentos sobre situação do HCU-UFU

Falta de repasses está obrigando medidas drásticas, como o fechamento do atendimento no pronto-socorro por tempo indeterminado

Esclarecimento sobre o HC

Diretores falam em “crise sem precedentes”. (Foto: Milton Santos)

Por Hermom Dourado

 

“Não estamos pedindo novos recursos; apenas aqueles que nos são devidos”. Com esta declaração incisiva, o diretor-geral do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HCU-UFU), Dr. Hélio Lopes da Silveira, resumiu o drama vivenciado pela equipe gestora daquela unidade de saúde devido ao atraso nos repasses que viabilizam o funcionamento dela. Somando-se os montantes que deveriam ter sido depositados por município, estado e União, a lacuna nos cofres do Hospital das Clínicas já é da ordem de R$ 16 milhões – dos quais R$ 10 milhões seriam provenientes do programa Rede Cegonha, do governo federal, ao qual o hospital é credenciado desde julho de 2014, mas ainda não recebeu nenhum centavo.

Silveira e outros cinco diretores do Hospital das Clínicas – Paulo Sérgio de Freitas (Clínico), Adenilson Lima e Silva (Técnico), André Luiz Gomes Penido (de Serviços Administrativos) e Durval Veloso Silva (de Enfermagem) – concederam entrevista coletiva na manhã desta segunda-feira, 13/06, para expor a gravidade da situação financeira e os impactos desta crise nos serviços ali prestados. Considerando o Triângulo Mineiro, outras cidades de Minas Gerais e de estados vizinhos, uma população estimada em mais de 2 milhões de pessoas está sendo afetada, pois a instituição é referência regional e até nacional em procedimentos como cirurgias cardíacas e pediátricas e atendimento oncológico.

Para expor o grau da dificuldade de se gerir o hospital nas atuais condições de fluxo de caixa, o diretor-geral apresentou a queda no orçamento para custeio registrada entre os anos de 2011 e 2015. “Neste período, tivemos uma redução nos repasses de R$ 155 milhões para 135 milhões. Se formos considerar que o acumulado da inflação neste intervalo de tempo foi em torno de 40%, deveríamos ter recebido um reforço e passado a receber R$ 210 milhões”, pondera, acrescentando que, não bastasse esta diminuição nos valores, ainda estão havendo atrasos nos repasses: “Antes, demorava uma média de 60 dias após o fechamento da fatura para termos acesso aos recursos; de setembro para cá, este tempo está sendo de 90 a 100 dias”.

Com a falta de dinheiro, materiais básicos de uso hospitalar e até mesmo produtos como copos descartáveis estão em falta na unidade, conforme revela o diretor-técnico. “A maioria está zerada no estoque ou perto de acabar. Temos aproximadamente 190 itens de uso hospitalar e outros 190 insumos básicos que já acabaram ou estão em quantidade mínima, devendo esgotar até o final desta semana. Não fosse a parceria e a solidariedade de outras instituições de saúde públicas e privadas de Uberlândia e de cidades vizinhas, a situação seria ainda pior. Só estamos conseguindo fazer procedimentos de hemodiálise, por exemplo, porque temos recebido materiais emprestados por Araguari”, narra Adenilson Lima e Silva.

Os problemas vão se acumulando em efeito cascata. Na manhã desta segunda-feira, a máquina de tomografia apresentou defeito por falta de manutenção preventiva e, enquanto ela não for consertada, não será mais possível realizar no local este tipo de exame, fundamental nos casos de politraumatismo. Quanto aos 57 leitos da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), a manutenção de cada um deles sai por R$ 2.100, sendo que os repasses são da ordem de R$ 570. E isso quando chegam.

 

Fechamento do PS

Segundo o Dr. Paulo Sérgio de Freitas, em meio a esta avalanche de problemas, a direção está sendo obrigada a tomar a medida drástica de suspender por tempo indeterminado o atendimento de pronto-socorro, que apresenta um déficit orçamentário mensal da ordem de R$1,5 milhão. “Estamos com 60% dos leitos comuns ocupados e não podemos admitir mais novos pacientes, a não ser em casos excepcionais, até mesmo para garantir a continuidade do tratamento destas pessoas que já estão internadas e que são a nossa prioridade. Mesmo assim, a qualidade do atendimento cai, pois estamos tendo que desmarcar cirurgias por falta de material. Estes cancelamentos podem chegar a 70%”, lamenta o diretor-clínico.

Ainda de acordo com ele, é preciso que a população se conscientize da importância de procurar o HCU apenas nos casos realmente urgentes e da colaboração dos órgãos de saúde dos municípios vizinhos. “Sabemos que cerca de 75% dos casos poderiam ser resolvidos nas unidades de atenção primária próximas à casa dos enfermos. Apenas aqui em Uberlândia, temos oito Unidades de Atendimento Integrado (UAIs) preparadas para este tipo de cuidados”, cita Freitas.

 

Ensino

Questionado sobre o impacto que estas medidas tomadas neste conturbado momento financeiro do Hospital de Clínicas podem representar para a formação dos alunos de Medicina da UFU, Hélio da Silveira admite que esta é uma preocupação plenamente justificável. A saída para amenizar o problema, prossegue ele, está sendo buscar uma parceria com o Hospital Municipal de Uberlândia: “Estamos buscando esta aproximação com o Municipal para que pelo menos parte do período de residência dos nossos acadêmicos possa ser cumprida nele.”

Contabilizando-se fornecedores e instituições financeiras, a dívida atual da Fundação de Assistência, Estudo e Pesquisa de Uberlândia (Faepu), que é responsável pela administração do HCU, ultrapassa os R$ 50 milhões. Passar o hospital ao controle da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) poderia ser a saída para esta crise sem precedentes, porém o diretor-geral não vê muitas perspectivas para o encerramento do imbróglio jurídico envolvido nesta questão. “A EBSERH talvez resolveria o nosso problema de pessoal, mas já deixou claro que não teria como assumir a dívida da Faepu nem os passivos trabalhistas. Além disso, tem a questão patrimonial, que a EBSERH exige e da qual o Conselho da Faepu não abre mão”, sinaliza Hélio da Silveira.

Fonte: comunica.ufu

 

14 de junho de 2016