100 anos da Reforma Universitária de Córdoba e o papel de TAE’s na construção da UFU

Por Raissa Dantas

Participantes refletem conjuntamente sobre o legado de Córdoba na manhã do XXVI CONSINTET-UFU | Foto: Raissa Dantas

O XXVI CONSINTET-UFU “Paulo Henrique Rodrigues dos Santos” avança para seu penúltimo dia com o debate sobre os “100 anos da Reforma Universitária de Córdoba e o papel de TAE’s na construção da UFU”, com Maria Cristina Sagário na mediação do debate e como convidados Mário Guimarães Júnior, coordenador geral do SINTET-UFU, Kleber Del-Claro, diretor de pesquisa da Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação (PROPP), Max Ziller, coordenador do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e, ainda, Alexandre Igrecias, assessor político do SINTET-UFU.

A contextualização histórica da origem das universidades foi realizada na abertura das discussões por Alexandre Igrecias, que resgatou suas fundações na Europa, na América Latina, dos processos diferentes de colonização e a emancipação dos países latino-americanos. O assessor político do SINTET-UFU deu enfoque aos processos do início do século XX que se deram na Argentina, do avanço dos ideais liberais, que pautaram a laicidade do Estado e que estiveram intimamente vinculadas à formação das universidades tais como são e o processo do levante de Córdoba. Igrecias destaca as lições desse movimento que se espalhou por diversas universidades argentinas e latino-americanas e conclui que “o principal legado de Córdoba é a formulação de uma universidade para a América Latina, que tente romper com o modelo europeu, que olhe e formule sobre questões próprias dos países latino-americanos. Ainda hoje conhecemos pouco dos nossos povos e Córdoba traz essa possibilidade, de uma universidade conectada com a América Latina e esse é o nosso desafio aqui, reconectar a universidade com o povo”.

O estudante de Sistemas de Informação, Max Ziller, trouxe um enfoque ao Manifesto de Córdoba, fez destaques de trechos costurando uma avaliação estudantil sobre o processo que, 100 anos após o fato histórico, tem enorme identificação com as pautas atuais do movimento estudantil brasileiro. Ziller reflete que “a universidade tem uma dificuldade real, metaforicamente e fisicamente, de sair de dentro dos seus próprios muros” e avança nas críticas e autocríticas sobre pensamentos em estratégias para que discentes e técnicos administrativos em educação (TAE’s) sejam ouvidos, seja dentro ou fora da universidade, propondo uma constante avaliação do cenário, da conjuntura e se essas categorias estão chegando onde pretendem chegar. Max afirma sobre a importância da autocrítica do segmento estudantil para o aprimoramento das práticas com estudantes e deixa a provocação sobre o fortalecimento das entidades representativas depender diretamente do apoio e envolvimento direto das bases. O coordenador do DCE conclui que “se a Reforma de Córdoba nos ensina algo de que a democracia é fundamental para que a universidade avance”.

O convidado representante da PROPP, Kleber Del-Claro, trouxe percepções sobre o papel dos TAE’s na construção da universidade e como, além dos técnicos, os docentes e estudantes são permeados por estereótipos sobre o outro e sobre si mesmos, construídos também na sociedade e que são baseados na ausência de conhecimento sobre o assunto. O diretor de pesquisas da UFU centrou sua fala refletindo sobre a condição de que “nós todos somos agentes complementares que devem se respeitar mutuamente como pessoas humanas. Todos temos nossos valores, necessidades, dores, sonhos e ambições. Temos a capacidade de doação e a necessidade de reciprocidade. Quanto mais unidos estivermos todas as categorias, mais fortes estaremos para combater toda essa estrutura que quer destruir a universidade pública brasileira pós-golpe”.

Mário Júnior, coordenador do SINTET-UFU, apresentou a proposição da coordenação colegiada sobre o tema do congresso e a importância da atualidade do que foi a Reforma Universitária de Córdoba com as lutas que hoje a UFU trava e para pensarem como a presente mesa pode fortalecer as ações do SINTET-UFU. Mário frisa o Plano de Carreira dos Técnicos-Administrativos em Educação (PCCTAE) que garante ao segmento a possibilidade fazer ensino, pesquisa e extensão, além da gestão. O coordenador enfatiza a “necessidade de fazer uma reforma radical na universidade está presente hoje e o que nós, TAE’s, temos a contribuir nesse processo? Pensar Córdoba 100 anos depois é pensar que defender o caráter público da UFU é defende-la como uma forma de luta antissistêmica”. Guimarães Júnior realizou uma série de questionamentos para incitar todos delegados e delegadas a refletir sobre os rumos do SINTET-UFU em referência ao legado da Reforma de Córdoba e conclui inspirado nas formulações de Florestan Fernandes, “Universidade Brasileira Reforma ou Revolução”, de que a universidade que devemos construir seja “educacionalmente criadora, pujante, plural, intelectualmente crítica, socialmente atuante, aberta ao povo, que os povos ocupem essa universidade, que ela seja capaz de exprimir politicamente seus anseios mais profundos”.

29 de agosto de 2018