Fala SINTET-UFU | 14 de fevereiro de 2024 | Mães na Ciência

PROGRAMA FM UNIVERSITÁRIA – 14 de fevereiro de 2024

(Raissa) Olá, companheiras e companheiros, aqui é Raissa Dantas e nesse Fala SINTET-UFU a gente conversa sobre o Mães na Ciência. Sintonize suas lutas.

Já parou pra pensar em como a maternidade impacta nas carreiras acadêmicas das mulheres? No final do ano passado e início desse ano, alguns fatos relacionados a esse assunto tomaram notoriedade. Talíria Petrone, mãe e deputada federal, aprovou um projeto de lei que prevê prorrogação de até 120 em defesas de mestrado e doutorado, em casos de nascimento ou adoção de filhos. Já no início desse ano, após um caso de discriminação por conta da gravidez de uma pesquisadora, o CNPq tornou obrigatório o aumento de 2 anos para gestantes que possuem bolsas de produtividade. Essas medidas são fundamentais para alcançar alguma inclusão e equidade na ciência.

Pra conversar mais sobre esse assunto com a gente, convidamos Júlia Palmeira pra esse Fala SINTET. Júlia é mãe, advogada, pesquisadora e professora.

Seja bem-vinda, Júlia.

 

(Júlia) Olá pessoal, primeiramente eu gostaria de agradecer pelo convite pra falar de uma temática que pra mim é tão importante quanto essa que é a maternidade e a pesquisa né? E como essas relações cruzam aí como a gente ainda tem muito desafio pela frente com relação a esse tema pra garantir direitos das mulheres cada vez mais. Meu nome é Júlia Palmeira, eu tenho 33 anos, sou advogada, sou pesquisadora e professora e mãe de duas crianças, um menino de sete anos e uma menina de sete meses. Curiosamente tive meu filho no final da minha da realização do meu mestrado durante a escrita da minha dissertação e curiosamente atualmente estou durante a redação da minha tese de doutorado e tive a minha filha mais nova então senti bem essa presença da da maternidade durante momentos cruciais bem determinantes da minha da minha formação acadêmica. Bom eu vejo que nós temos muitos desafios nessa área a começar pensando na própria licença né? A disparidade que existe entre licença maternidade e licença maternidade no nosso país já pressupõe uma sobrecarga materna e que se estende ao longo do tempo em especial quando a gente está falando de uma pesquisadora isso acaba sendo bastante delicado porque a atividade de pesquisa é uma atividade que é inerentemente de concentração né? Ela demanda seja pra rodar experimento pra fazer testes em laboratório pra fazer análises bibliográficas a gente precisa de concentração, a gente precisa de silêncio, precisa de tempo de leitura, de tempo de escrita, de tempo de criação, de reflexão e isso é extremamente dificultoso quando quando temos crianças pequenas, né? Quando temos crianças desde a fase do aleita bebês que ainda que ainda demandam bastante dessa presença física até a fase de de outras fases de desenvolvimento mas ainda infantil. Que demandam essa atenção, esse cuidado, uma brincadeira e que tem uma interação com as mães principalmente porque acabam sendo elas as que mais concentram esses trabalhos. Inclusive jornadas duplas, triplas e até pra equilibrar um pouco a questão financeira. Essas crianças demandam uma atenção e um cuidado que continuamente acaba interrompendo esse fluxo de produção científica, né isso faz com que se desencadeia uma série de de outras questões seja a dificuldade de produzir na mesma proporção que que existia anteriormente que se fazia anteriormente até uma frustração de não conseguir seguir o mesmo ritmo naquele determinado momento muitas inclusive chegando ao ponto de desenvolverem outras questões no âmbito da saúde mental. Né? Então é importante a gente pensar no suporte institucionais, estruturais sobre tudo pra poder assegurar uma uma produção científica de qualidade. Mas também uma um cuidado com a saúde mental materna no desenvolvimento das atividades de pesquisa É curioso que mesmo se tenhamos um número bem expressivo de mulheres é na nas pesquisas e como autoras de artigos e de livros ao mesmo tempo a gente tem um número muito maior de homens que são contemplados com bolsas de alta produtividade né? Então eu acredito que isso Deva muito também ao fato da da maternidade concentrar grande parte dessa dessa sobrecarga. Então da sobrecarga do trabalho né? Do do trabalho que não é reconhecido que é o trabalho do cuidado. Então eu vejo que institucionalmente a de creches, a existências de de suportes quem sabe pensar até em bolsas especificamente voltadas pra esse período de de aleitamento, de desenvolvimento infantil pra que possa dar algum tipo de de de mesmo pra que essas mães possam contar com redes de apoio que elas não tem muitas vezes próxima é e possam ou possam usufruir de uma estrutura que estabilize esses cuidados com seus filhos e consigam produzir com qualidade, com tranquilidade que precisam né? Mas eu acho que do ponto de vista estrutural ainda temos muitas pra pensar muitas políticas públicas pra desenvolver e necessariamente no meu ponto de vista isso passa pelo reconhecimento do cuidado como um trabalho, um trabalho que tem um preço seja ele do ponto de vista de de criar pessoas e cidadãos que vão estar aí tomando decisões vivendo e se formando ao longo da vida seja também pelo custo financeiro que isso tem isso custa sonhos isso custa eh tempo isso custa disponibilidade e isso custa dinheiro então é preciso pensar dentro dessa estrutura que a gente vive no modelo capitalista como pauta algum equilíbrio pra que essas mães possam continuar produzindo, continuar pesquisando, continuar nutrindo a ciência e ainda assim tendo espaço também pra cuidar dos seus filhos, das suas crianças da melhor forma que que conseguirem. É isso pessoal, muito obrigada.

 

(Raissa) Esse foi o FALA SINTET-UFU dessa semana! Você pode conferir mais informações em nosso site e em nossas redes sociais. Ótima semana a todas e todos e até o próximo programa!

15 de fevereiro de 2024