Fala SINTET-UFU | 20 de julho de 2022

PROGRAMA FM UNIVERSITÁRIA – 20 de julho de 2022

 

(Lorena) Olá, companheiras e companheiros ouvintes da Universitária FM, eu sou Lorena Martins e está no ar o FALA SINTET-UFU.

 

(Lorena) Nessa edição, a gente vai falar sobre saúde mental e trabalho. E pra conversar com a gente sobre essa pauta, eu convido Ana Flávia Manfrim, que é Psicóloga e Mestre em Psicologia pela UFU.

Seja bem-vinda, Ana Flávia.

 

(Ana Flávia) Oi, pessoal. Já de início eu gostaria de frisar como que essa temática da relação de saúde mental e trabalho é superimportante e que embora ela seja fundamental pra gente pensar nossa relação com o mundo, nem sempre esse debate tá presente na formação dos cursos da área de saúde, inclusive da própria atuação, né? Dos trabalhos e cuidado. Então, a gente trazer esse debate à tona, ampliar e popularizar essa conversa, é muito importante pra que esses fatores não sejam negligenciados.

Nesse sentido, é possível a gente perceber que tem acontecido um aumento desse debate nas redes sociais e especialmente na última semana algumas conversas, alguns posts sobre como nem sempre estar com a terapia em dia é o suficiente. Pode parecer estranho, né? Eu como psicóloga, como terapeuta dizer isso, mas esse entendimento é muito importante pra que a gente não caia em um processo de individualização do sofrimento e do processo de adoecimento, especialmente considerando uma série questões que acometem os e as brasileiras atualmente. Qual que é o cenário que a gente tá vivendo hoje? A gente tá vivendo as consequências de uma pandemia seríssima que nos afetou física, psicológica, social e economicamente. Diversos brasileiros estão sem acesso a condições básicas pra se viver com dignidade, como alimentação e moradia, é possível perceber uma perda do poder de compra da população, um processo de endividamento da população. Muitos perderam seus empregos, suas condições básicas de trabalho. Há de forma geral um sucateamento das carreiras e dos órgãos públicos, além da terceirização do trabalho, as rotinas de trabalho exaustivas. Se a gente acrescenta o debate super importante sobre raça classe e gênero, esses dados são ainda mais alarmantes quando a gente pensa na população negra, nas mulheres, em pessoas de vulnerabilidade social, ou seja, a lista é imensa e a gente pode até lembrar daquele meme que diz que viver no Brasil é todo de um 7 a 1 diferente, trazer esses debates, né? Trazer esses debates é super importante pra gente ressaltar que a nossa saúde mental está necessariamente relacionada com as nossas condições de vida. Ou seja, que o processo de adoecimento, que o processo de sofrimento mental não é simplesmente causado só por fatores biológicos, só por fatores individuais. Então, é possível a gente perceber e deduzir que esse cenário tem um grande potencial de nos afetar de aumentar as queixas, de aumentar os processos de sofrimento e nesse sentido as nossas possibilidades e as nossas condições de trabalho são também estruturantes da nossa saúde, ou seja, né?

De novo, vamos pensar. Se eu tenho um trabalho que realiza o meu potencial criativo, que permite que eu contribua com a vida das pessoas, que me faça feliz e que especialmente é um trabalho que garanta que eu consiga ter uma vida digna economicamente, esse é um cenário, mas se a gente leva em conta que muitas pessoas não tem uma dimensão de escolha com o que elas podem trabalhar, como elas podem trabalhar, muitas precisam se submeter a condições de trabalho extenuantes pra garantir a sua própria ou trabalhos que não garantam essa realização simbólica, trabalhe de enfiar uma pressão de produtividade ou diversos outros casos é muito provável, a gente tá falando de outro cenário, né? É muito provável que a gente esteja conversando sobre cenários em que haverá um comprometimento da saúde mental. E nesse contexto, claro que a terapia são importantes, eles não devem ser negligenciados, especialmente pra gente pensar em forma de enfrentamento, possibilidade de mudança, processo de cuidado de si e inclusive também uma conscientização sobre essas condições todas que a gente tá conversando aqui e como que isso afeta a vida de quem tá conversando com a gente, mas que nós profissionais de saúde, que nós membros ativos de uma sociedade não nos esqueçamos que a mudança e o processo individual não são suficientes e que lutar por condições melhores de existência e inclusive por políticas públicas de atenção coletiva, são meios de garantir uma melhor qualidade de vida de saúde mental também de forma coletiva.

 

(Lorena) Esse foi o FALA SINTET-UFU dessa semana, você pode conferir mais informações em nosso site e redes sociais. Ótima semana a todas e todos e até o próximo programa!

 

18 de julho de 2022