Fala SINTET-UFU | 21 de dezembro de 2022

PROGRAMA FM UNIVERSITÁRIA – 21 de dezembro de 2022

(Lorena) Olá, companheiras e companheiros ouvintes da Universitária FM, eu sou Lorena Martins e está no ar o FALA SINTET-UFU.

O final do ano de 2022 vem chegando e, mudando um pouco a temática dos nossos papos, mas sem perder a essência, trazemos como tema desse penúltimo Fala SINTET do ano a micropolítica dos afetos.

Por vezes nós enxergamos o amor como algo estritamente sentimental ou emocional, mas o amor-afeto traz em si desdobramentos concretos que podem ser políticos, que podem contribuir pra que a gente possa repensar nosso modo de organização da sociedade e dos trabalhadores e trabalhadoras.

Então partindo disso e da provocação de que é possível pensar o afeto nos seus aspectos políticos e sociais, convidamos Lucas Guzzo, que é mestrando no Programa de Pós-graduação em Estudos Literários da UFU, para conversar com nossos ouvintes sobre esse tema. Seja bem-vindo, Guzzo.

 

(Lucas Guzzo) Olá, meu nome é Lucas Guzzo e eu fui convidado hoje a falar um pouco sobre esse sentimento tão controverso e tão amplamente que é o amor. Bom, primeiro eu gostaria de colocar que é importante pensar o amor pra além das narrativas das quais a gente tem acesso, sobretudo nas mídias de massa e também na literatura. Importante que a gente entenda que esse sentimento, ou o amor enquanto sentimento, foi amplamente difundido tom ideal do século XIX, que é o período conhecido como período romântico. A princípio, esse sentimento ele passa a ser estimulado como um cultivo particular de uma designação sublime entre duas pessoas que se aproximam, por causas inexplicáveis que fogem da razão humana. Em contraposição a isso, eu gostaria de colocar aqui a proposta de uma grande teórica africana que denuncia a urgência de, aqui no ocidente, operarmos um descolamento deste sentimento ou do amor dessa ideia de romance, porque as práticas de amor sobretudo na África não se fundamentam nessas bases as quais temos acessos, os quais estamos aqui acostumados. Diz que o amor antes de qualquer coisa é uma intimidade radical ou o espírito diariamente cultivado para obter essa intimidade. E essa intimidade também não é necessariamente aquela do né? A qual estamos acostumados aí, a falar e a consumir nos nossos produtos midiáticos. Nesse sentido, eu acho importante que pensemos no amor como coloca Bell Hooks, uma teórica feminista negra, estadunidense que diz que o amor nunca é um momento  mas é sempre um ato, uma prática. Mais que isso Hooks também afirma que o amor é uma ética pra vida. Nesse sentido podemos empregar esse conceito de amor como um parâmetro que vai organizar não somente as nossas ações pessoais ou no âmbito particular. Muito pelo contrário. O amor seria então um compromisso radical com uma coletividade maior que transcende essa noção comum com as quais estamos aqui acostumados no ocidente e na modernidade, assim sendo dentro das instituições o amor para Bell Hooks seria esse organizador das lutas, seria a forma de nos colocarmos ali, mais que solidários, mas também partidários coletivas, das lutas sociais. Eu acredito e eu prefiro até usar a palavra afeto. Pra quem não sabe, amor em yorùbá é ife. Ife também é o nome de uma cidade do estado de Oxum. Mas isso fica pra uma outra e eu prefiro usar essa palavra afeto pra que a gente pense nessa solidariedade, mesmo nessas possibilidades de formação de assembleias e de fortalecimentos coletivos nos interiores das instituições. E que a gente algum dia consiga de fato descolar o amor dessa ideia ocidental, moderna e estigmatizante do romance, que a gente assuma o amor como um compromisso radical com a emancipação coletiva.

 

Lorena) E esse foi o FALA SINTET-UFU dessa semana! Você pode conferir mais informações em nosso site e em nossas redes sociais. Ótima semana a todas e todos, um feliz natal e até o próximo programa!

 

20 de dezembro de 2022