Fala SINTET-UFU | 26 de abril de 2023 | Ditadura Militar e os docentes expulsos da UFU

PROGRAMA FM UNIVERSITÁRIA – 26 de abril de 2023

 

(Lorena) Olá, companheiras e companheiros ouvintes da Universitária FM, eu sou Lorena Martins e está no ar o FALA SINTET-UFU.

O Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia se retratou por meio de uma nota com os oito professores do curso de Psicologia que foram expulsos da UFU no início dos anos 80, na época da ditadura militar, por conta de perseguição política. São eles:

Profa. Érika Wróbel

Prof. Luiz Leite Monteiro

Profa. Maria de Fátima José-Silva

Prof. Maurício Requião de Mello

Prof. José Baus

Profa. Sueli Terezinha Ferrero

Profa. Regina Sileikis

Prof. José Silvio Pimentel

 

15 anos depois da expulsão, os professores foram anistiados e determinou-se, inclusive, que eles fossem reintegrados ao quadro de docentes da universidade, além disso a UFU foi condenada ao pagamento de indenização. Agora, em 2023, com a nota e o pedido de desculpas do Instituto de Psicologia, a intenção é tentar reparar a injustiça e também relembrar os abusos do regime ditatorial, que regeu nosso país por tantos anos.

Eu convido a professora e diretora do Instituto de Psicologia, Maristela de Souza Pereira, pra conversar com a gente sobre esse assunto. Maristela, seja bem-vinda!

 

(Maristela) Olá, venho contar pra vocês sobre a publicação de uma nota pública de retratação e pedido de desculpas aos oito professores que foram expulsos do curso de psicologia no início dos anos 1980. Naquele momento vivíamos ainda um contexto de ditadura militar perseguição política e esses professores que haviam vindo de outras regiões do país eram professores que traduziam pros alunos do curso de psicologia uma perspectiva mais engajada de transformação social de uma psicologia comprometida com a melhoria das condições de vida da população. Uma psicologia de base materialista que trazia reflexões críticas e que propunha então uma atuação mais comprometida dos profissionais Esses professores foram alvo de uma perseguição política iniciada internamente dentro do curso de psicologia. Eles foram processados sem que tivessem internamente num processo administrativo sem que tivessem acesso aos autos e que sem que pudessem inclusive ser o teor das acusações que ele sofria. Esse processo se iniciou a partir supostamente de uma falta ética de uma dessas professoras. No entanto sabe-se que se fosse uma falta ética deveria ter sido encaminhada pro Conselho Regional de Psicologia que é o órgão de classe, né? Que apura essas denúncias. O que não foi feito, né? Naquele momento foi aberto um processo administrativo e estranhamente outros sete professores que nada tinham a ver com a situação sendo incluídos dentro dessa lista que ficou conhecido como grupo dos oito, mas que poderia ter sido nove, poderiam ter sido sete. Na verdade se incluiu nessa lista docentes que eram considerados potencialmente ameaçadores pro status quo reacionário, né? Que se imperava naquele momento, não só dentro do Instituto de Psicologia, mas na cidade de Uberlândia e no país como um todo governado por uma ditadura militar. Cerca de quinze anos depois desse processo no meio dos anos noventa, esses professores foram anistiados pela justiça que reconheceu que eles foram vítimas de uma perseguição política e determinou a reintegração de posse deles ao cargo na universidade. Por motivos óbvios nenhum desses professores quis retornar. Esse sempre foi um difícil dentro do nosso curso, é um trauma que ficou ali marcado e que representou inclusive a suspensão de um eixo formativo inteiro na área de psicologia social e psicologia comunitária. Esses professores alguns deles puderam voltar a Uberlândia e a universidade em dois mil e dezoito, em um evento que eu organizei junto com o colega Nilson Brindestein Neto e puderam assim contar pros participantes desse evento sobre os inúmeros traumas e dificuldades vivenciados por eles a partir daquele episódio no entanto a universidade nunca havia se desculpado oficialmente com esses professores e isso foi possível ser feito somente agora em dois mil e vinte e três com uma decisão que foi proferida pelo conselho do Instituto de Psicologia instância deliberativa máxima dentro da unidade e que decidiu pela publicação dessa nota de retratação e pedido de desculpas. A nota foi assinada e publicada na página do Instituto foi enviada aos sete professores que ainda estão vivos e a família daquele que já faleceu todos se mostraram muito emocionados e agradecidos porque embora tão tardiamente foi reconhecida a inocência deles. É isso, obrigada.

 

(Lorena) E esse foi o FALA SINTET-UFU dessa semana! Você pode conferir mais informações em nosso site e em nossas redes sociais. Ótima semana a todas e todos, se cuidem e até o próximo programa!

25 de abril de 2023