17 de maio e Dia Internacional de Combate à LGBTQIA+fobia: o que temos para celebrar na educação?

 

No dia 17 de maio, é comemorado o Dia Internacional de Combate à LBTQIA+fobia. Esse dia foi um marco, pois há 32 anos a data de 17 de maio foi especificamente escolhida para comemorar a decisão da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1990 de desclassificar a homossexualidade como um transtorno mental. Em muitos calendários, e na maioria também das postagens as quais temos acesso pela internet, se faz menção ao dia contra a homofobia, bifobia e transfobia. E como tem sido a realidade no âmbito educacional? Será que conseguimos de fato construir essa luta nesse local de privilégio?

Ainda que consigamos imaginar uma melhor realidade de cenário para as pessoas cisgêneros, o que não significa grandes privilégios adquiridos, ainda é um desafio para pessoas travestis, trans e não-binárias lidarem com as violências simbólicas, físicas e verbais que são constantemente praticadas pela heterocisnorma. Recentemente, na Universidade Federal de Uberlândia, ume alune não-binárie travou uma luta com a faculdade a qual estuda para ter o direito de utilizar um banheiro neutro. Seria algo tão difícil assim de ser praticado, já que as cabines de banheiro é o espaço mínimo para se resguardar a individualidade?

Rosilaine Cristina Silva, técnica-administrativa em educação na UFU, em sua dissertação de mestrado defendida em abril de 2022 no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia (PPGED/UFU), intitulada “(TRANS)formando no Ensino Superior: Trajetórias de estudantes Travestis e Transexuais na Universidade Federal de Uberlândia”, analisou o processo de acesso, permanência e vivências de estudantes travestis e transexuais, de cursos de graduação e pós-graduação da UFU. Dentre várias discussões realizadas, em relação à permanência, foram relatadas algumas dificuldades, como a questão financeira, que ocasionou a necessidade de conciliar o trabalho e estudos.

Outro apontamento da pesquisa da servidora da UFU é em relação a dificuldades burocráticas na instituição para o uso do nome social, desde a solicitação junto ao setor responsável até o não respeito dessa política em sala de aula. As transfobias vivenciadas relatadas pelas pessoas que participaram da pesquisa foram de várias formas: físicas, simbólicas e psicológicas. E em muitos casos não houve nenhuma tratativa por parte da UFU, ou estas não foram adequadas, o que ocasionou a descrença em se denunciar por parte dessa(e)s estudantes. Esse tipo de situação não deveria acontecer, já que dados da ANDIFES mostram que apenas 0,02% dos estudantes do ensino superior se reconhecem enquanto trans ou travestis.

Nesse sentido, ainda vale compreender que a falta de cursos e procedimentos para garantir a essas pessoas o uso do seu nome social é uma realidade. Quando foi que a Universidade, mais especificamente a UFU, fez com o corpo técnico um curso para instruir e capacitar sobre o Decreto nº 8.727 de 28 de abril de 2015? 7 anos já se passaram e não há sinal dessa preocupação. Sem mencionar, ainda, que os hospitais universitários ainda não estão plenamente capacitados (em verbas principalmente) para fazer as cirurgias de redesignação sexual, maior parte dessas inacessíveis a populações-alvo dessa possibilidade. Sem contar na falta de espaço para discussão da saúde de pessoas intersexuais, constantemente mutiladas pelo próximo (cis)(sis)tema de saúde.

Não muito distante, olhe para seu lado! Quantas pessoas trans, travestis e não-binárias você convive? Você acha capaz de construir uma inclusão sem pensar sequer na convivência saudável com essas pessoas? Você acredita que essas pessoas se sentem bem ao estar próximo à cisnorma?

Devemos combater, sim, a violência contra as pessoas LGBTQIA+, porém quando um texto fala apenas de alguma dessas, significa, na Educação, que quem escreve e quem lê sempre terão o privilégio da cis-palavra.

 

Texto: Guilherme Gomes – Técnico-Administrativo na UFU e Coordenador da pasta de Políticas Sociais e Antirracismo no SINTET-UFU

17 de maio de 2022