29/01 – Dia Nacional da Visibilidade Trans

Guilherme Augusto Gomes

 

O dia 29 de janeiro é o Dia Nacional da Visibilidade Trans. Considerando essa data tão importante, torna-se necessário educarmo-nos e refletirmos os motivos pelos quais, mesmo após 18 anos da instituição dessa data em virtude da primeira mobilização organizada por travestis e pessoas trans para reivindicar direitos, na Praça dos Três Poderes, em Brasília, ainda não há uma quantidade digna dessas pessoas trabalhando ao nosso lado, bem como o Brasil ainda ser o país que mais ceifa vidas e direitos de travestis e pessoas trans.

Em face de tempos em que a mídia dá espaço a uma artista travesti multimídia, Linn da Quebrada, percebemos a falta de cuidado de algumas pessoas ainda não se adequando ao primeiro e primordial ato para lidar com pessoas trans e travestis: o uso dos pronomes. Desde nossa educação primária, aprendemos a estabelecer o uso dos pronomes para substituir os substantivos, assim como na língua portuguesa é muito comum o uso dos artigos definidos alinhados ao gênero dos substantivos, sejam eles próprios ou comuns. Por isso, nas redes sociais, comumente encontramos também pessoas trans reivindicando primordialmente o direito de ser reconhecida, primeiramente, pela linguagem.

Assim, o que deve ser usado (escrito e falado) para uma pessoa em termos de nome e pronome é como ela se sente socialmente, e não a forma que desconsidera o modo como a pessoa quer e deve ser lida. Os olhos e as lentes sociais nos enquadram e muitas vezes as pessoas não querem se adequar e, por isso, exige um esforço coletivo para tornar esse processo menos doloroso e problemático. Quando nos esquivamos de educarmo-nos na linguagem, vamos criando camadas de violências possíveis para que as pessoas desconsiderem as pessoas trans. Pessoas trans e travestis são retiradas do seu direito à educação principalmente por essa violência expressada pela língua. Enquanto técnicos/as em educação, esse é o primeiro passo para tornar os espaços da universidade e da vida mais menos hostil para todos/as/es.

Há três anos, o Governo silencia essa data. O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos sequer celebra essa ou qualquer outra data que lide com a diversidade sexual. Isso só é mais um problema dentre tantos que deixam de educar a sociedade para um olhar diverso.

O direito ao nome social para trans e travestis é outra questão que deve ser revista. O direito ao uso do seu nome e ao respeito desse uso não é respeitado em sua plenitude, já que o nome de registro, um dos sinais evidentes de disforia para as pessoas que necessitam desse uso, muitas vezes é colocado em visibilidade seja para o engano, seja para dar lastro ao desrespeito que nós, enquanto povo, muitas vezes não nos preocupamos.

Que essa data sirva como um momento reflexivo de nós, pessoas cisgêneros, e que mais pessoas não precisem tatuar o pronome em sua testa, assim como Linn da Quebrada, para ter o direito a ser respeitada. E nas palavras da própria artista: “não queimem as bruxas / mas que amem as bixas / mas que amem / que amem / clamem / que amem / que amem as travas também”.

 

 

28 de janeiro de 2022