ENSINO REMOTO NA UFU: a quem e por quais motivos interessa a aprovação apressada do tema nos Conselhos Superiores?

 

 

 

Nota conjunta:

ADUFU – Seção Sindical

Sintet-UFU

Associação dos Pós-Graduandos da UFU

 

Na noite anterior à reunião do Conselho de Graduação (CONGRAD) que pautará a implementação do ensino remoto na graduação e, tendo o Conselho de Pesquisa e Pós-Graduação (CONPEP) se reunido e debatido o tema, pelo menos, uma vez, o Comitê de Monitoramento à Covid-19 no âmbito da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) publicou um relatório de cento e quarenta e uma páginas com dados reveladores: o primeiro, quanto à participação da comunidade universitária na pesquisa relatada; o segundo, no que se refere à fragilidade metodológica da pesquisa, pois se refere a acesso a meios digitais e possui a sua coleta de dados unicamente por essa via; o terceiro, a não participação dos três segmentos da comunidade universitária e as suas representações (discentes, docentes e técnicos) no processo de elaboração do questionário da pesquisa.

No CONPEP ocorrido em 19 de junho, debateu-se a proposta de resolução visando a adoção do ensino remoto na pós-graduação, sem amplo debate prévio e com ausência de dados e informações relevantes que, até aquele momento, não haviam sido divulgados pelo já referido Comitê. Dentre vários aspectos polêmicos e preocupantes da proposta de resolução, destacam-se: a exclusão da possibilidade de realização de processos seletivos remotos; a exclusão de bolsistas do Auxílio de Inclusão Digital; o constrangimento gerado pela obrigatoriedade da assinatura em um Termo de Consentimento pela totalidade dos alunos matriculados nos componentes curriculares ofertados no semestre letivo 2020-1, terceirizando a responsabilidade institucional e expondo a constrangimentos discentes em vulnerabilidade socioeconômica; a problemática da autonomia de calendários específicos para cada Programa; e a falta de clareza na suficiência orçamentária do Auxílio Inclusão Digital, assim como em sua implementação.

Já a resolução, que estará em discussão na tarde de hoje no Congrad, preocupa pelo atropelo para sua discussão, a ser realizada sem tempo hábil para que coordenadoras e coordenadores reflitam, com seus respectivos segmentos discente, docente e técnico-administrativo em educação, quanto aos resultados da pesquisa realizada pelo Comitê Covid-19 da UFU e a proposta de resolução em tela no CONGRAD desta tarde.

Vamos, então, aos dados reveladores da pesquisa realizada pelo Comitê Covid-19 UFU:

 

63,86% dos estudantes da graduação não responderam ao questionário;

71,29% dos estudantes pós-graduandos não responderam ao questionário;

74,96% dos estudantes da Escola Técnica de Saúde (ESTES) não responderam ao questionário;

759 docentes, que representam 37,56% dos docentes, não responderam ao questionário;

57% dos docentes do ensino básico (ESEBA) não responderam ao questionário;

66,5% dos técnicos administrativos em educação não responderam ao questionário;

78,92% dos funcionários terceirizados não responderam ao questionário.

 

Conclui-se que 64,51% da comunidade acadêmica não participou da pesquisa. Participaram 13.714 indivíduos de um universo de 38.638, o que demonstra uma ausência relevante de respondentes, algo que impossibilita a utilização de seus dados como fundamento para defesa do ensino remoto como solução para o isolamento social em tempos pandêmicos. Caso estivéssemos partindo de uma pesquisa acadêmica sob a lógica amostral, o número de respondentes ao questionário aplicado pelo Comitê seria expressivo. Entretanto, reforça-se que se trata de uma investigação sobre acesso digital, disponível apenas em tal meio, o que agrega muito significado às não-respostas ao questionário: afinal, quem não respondeu pode não ter tido acesso à pesquisa no atual contexto.

Percebe-se, portanto, que as fragilidades supracitadas são fruto da construção não democrática do referido questionário. A ausência de representações da comunidade acadêmica, para além dos membros indicados pela Gestão Superior, comprometeu a participação e a elaboração das perguntas, e portanto, refletiu nos resultados que se demonstram ineficientes na construção de um panorama aprofundado da realidade universitária para implementação de qualquer modelo de ensino remoto.

Por fim, para além da apresentação tardia dos resultados, tomando como referência a convocatória do Conpep e do Congrad, o relatório apresenta indícios de que a pesquisa foi realizada para comprovar, forçosamente, uma hipótese. Em outras palavras, não podemos chegar à conclusão do ensino remoto como solução simplesmente questionando à comunidade universitária se ela deseja ou não tal modalidade de ensino: faz-se necessário um profundo estudo científico sobre o tema antes de qualquer implementação. No questionário, verifica-se que os membros da comunidade universitária foram silenciados para dar voz aos respondentes em cada uma das categorias. Tal fato pode ser comprovado quando, com exceção do corpo docente, nenhuma categoria ultrapassa os 36% de participação. Vale lembrar, ainda, que a universidade não parou com a suspensão dos calendários, o Hospital de Clínicas, grupos de pesquisa, projetos de extensão dentre várias outras atividades permanecem funcionando e garantindo que a UFU continue sendo parte ativa nas sociedades locais e regionais em que está inserida. A direção da Universidade deveria utilizar balizamento de pesquisadores/as e profissionais da área de didática e pedagogia.

O Ensino Remoto por si, é a subrelevação da importância da relação docente-discente no processo de ensino-aprendizagem. É o método atualizado de redução de custos, utilizado pelas IES particulares, que jamais deveria ser incorporado pela Universidades Públicas. Neste sentido, a ADUFU – Seção Sindical, o Sintet-UFU e a Associação de Pós-Graduandos da UFU compreendem que a função social da Universidade Pública perpassa, necessariamente, pela qualidade e seu impacto no desenvolvimento regional e nacional, e tal objetivo jamais deve ser alvo de submissão ou negociações escusas. Neste sentido, qualquer adaptação ou mudança dentro das suas atividades-meio e atividades-fim deve passar por amplo debate com a comunidade acadêmica e um levantamento profundo das realidades dos diferentes segmentos. Logo, as referidas entidades, reafirmando seu compromisso histórico e institucional com nossa universidade, se posicionam contrárias ao método excludente proposto pela Gestão Superior e reafirmam que jamais se furtarão da defesa da Universidade pública, gratuita, de qualidade, socialmente referenciada e inclusiva.

26 de junho de 2020