Ismene Mendes: PRESENTE HOJE E SEMPRE!

Por Carlos Monteiro e Raissa Dantas*

No último dia 25, sexta-feira, ao mesmo tempo que ocorria sessão solene do Conselho Universitário (CONSUN) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) em comemoração dos 40 anos de federalização da instituição ocorria outro fato histórico no auditório do bloco 5S, campus Santa Mônica na UFU: a celebração da memória de Ismene Mendes.

Ismene Mendes foi estudante de direito na UFU e, posteriormente, vereadora e advogada defensora dos movimentos sociais em Patrocínio. Sua atividade política comprometida com as causas dos mais vulneráveis foi a causa da sua morte, afinal, a Ditadura Civil-Militar não aceitava questionamentos e enfrentamentos.

A lutadora do povo foi difamada durante anos com um atestado de óbito que descrevia que ela se auto estuprou com uma série de objetos e cometeu suicídio. Por décadas essa foi a narrativa injusta da história de uma mulher que teve a coragem de questionar a desigualdade social e a política repressiva da Ditadura Civil-Militar.

Fundada a Comissão da Verdade do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba que Ismene finalmente teve o seu descanso merecido com a descoberta e divulgação dos fatos reais. A busca por verdade, memória e justiça deve ser prática cotidiana em uma sociedade que ainda não teve sua justiça de transição.

E foi com essa concepção que o Ministério Público Federal (MPF) em parceria com a UFU e a Comissão da Verdade do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba realizaram na última sexta-feira a audiência pública para apresentação dos dados coletados. Estiveram presentes na mesa os procuradores Leonardo Andrade Macedo e Onésio Soares Amaral, o diretor da Faculdade de Direito “Jacy de Assis”, Professor Helvécio Damis, e os representantes da comissão regional Professora Neiva Flávia Oliveira, José Carlos Cunha Muniz Filho, Esther Faria e José Renato Resende.

As falas dos membros da mesa foram de grande satisfação em fazer parte do processo que traz memória, verdade e justiça não só para Ismene Mendes, mas para toda nossa região. O Prof. Afonso Lana, aposentado do Instituto de Artes da UFU, também esteve presente e compartilhou com todas e todos suas experiências enquanto preso político do período ditatorial e seu exílio. Com auditório cheio e discussões para o avanço do processo transitório a UFU inicia suas comemorações de 40 anos, e ao mesmo tempo, passa a honrar uma de suas discentes que ousou lutar pelo povo brasileiro.

O relatório apresentado de forma completa pela comissão e pelo MPF, além de trazer a real história de Ismene Mendes e o extermínio dos índios Krenaks, trouxe uma série de recomendações e cabe a todas e a todos nós participarmos e garantirmos a efetivação de tal resolução. Dentre as 15 ações elencadas pela comissão estão a criação de um observatório de Direitos Humanos, retirada de homenagens a agentes da ditadura e a retificação das anotações do atestado de óbito de pessoas vítimas da violação de Direitos Humanos.

Ao fim da cerimônia formal o público e a mesa puderam inaugurar o busto de Ismene Mendes na frente da Faculdade de Direito da UFU. Um avanço para uma universidade que até pouco tempo possuía o busto do militar Rondon Pacheco nas dependências da Reitoria.

O grupo Artimanha apresentou a música composta por Felippe Alves que homenageia Ismene Mendes e todas e todos presentes puderam acompanhar entoando a canção, que fora distribuída ao público. A Professora Neiva Flávia Oliveira conduziu a inauguração, convidando a família de Ismene Mendes, representada pela tia, Maria Abadia Ferreira, e pela prima, Ester Ferreira, para que pudessem fazer uma fala e, posteriormente, fizeram a inauguração oficial do busto de Ismene Mendes. O vídeo completo desse momento está disponível na página de Facebook do SINTET-UFU: www.facebook.com/sintet.ufu

O busto de Ismene Mendes foi feito pelo artista Afonso Lana com o apoio do SINTET-UFU, da ADUFU, da Faculdade de Direito “Jacy de Assis”, da Sub-comissão da Verdade do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba – Ismene Mendes e, ainda, da UFU.

 

*Carlos Monteiro é assessor político do SINTET-UFU e Raissa Dantas é jornalista do SINTET-UFU.

29 de maio de 2018

  • Vilmar Martins Jr.

    Uma correção no trecho: “Um avanço para uma universidade que até pouco tempo possuía o busto do militar Costa e Silva nas dependências da Reitoria.”
    – Na verdade a reitoria mantinha em suas dependências o busto de Rondon Pacheco, busto este que foi posteriormente removido para o gramado entre os fundos do Bloco da Fadir a Biblioteca, que foi alvo de manifestação de estudantes pela sua retirada, o que ocorreu recentemente. Sobre a homenagem a Costa e Silva, entretanto, ela ocorreu durante os primeiros anos de mandato a reitor do professor Alfredo Júlio entre 2009 a 2013, que ostentou, no hall de entrada da reitoria, uma fotografia datada de 1978 em que o então presidente Costa e Silva assina, juntamente com Rondon Pacheco e outros ministros da ditadura, o documento de federalização da UFU. Esta fotografia também foi retirada após mobilização de estudantes e professores que não aceitaram estas referências por parte da instituição.
    Parabéns aos lutadores que estão mobilizados na disputa de narrativas democráticas para a universidade!