Personalidade do mês de Novembro: Laudelina de Campos Melo

 

O mês de novembro destaca a luta do povo negro, rememora a trajetória de busca pela liberdade, por direitos e pela humanização. O povo negro luta em todos os espaços e falar de Laudelina de Campos Melo é colocar um holofote sobre a luta das trabalhadoras negras e sobre a história das mulheres negras no sindicalismo.
Laudelina nasceu em 12 de outubro de 1904, em Poços de Caldas, Minas Gerais. Sua avó foi escravizada e doou sua mãe, ainda criança, para a família Junqueira, uma das fundadoras da cidade e para a quem trabalhava. A mãe de Laudelina casou e teve filhos, porém continuou servindo à família Junqueira, apesar de trabalhar também como doceira da cidade.
Laudelina começou a trabalhar aos 7 anos de idade, como empregada doméstica e babá, em Poços de Caldas. E, quando tinha 12 anos, perdeu o pai em um acidente de trabalho. A partir daí, precisou interromper os estudos e passou a cuidar da casa e dos irmãos, enquanto sua mãe trabalhava na lavanderia da cidade.
Quando Laudelina tinha 16 anos, um capataz foi à sua casa para buscar sua mãe para fazer trabalhos na casa da família Junqueira e esta falou que não podia naquele momento, ao que o capataz começou a chicoteá-la. Laudelina avançou no homem para defender sua mãe e o deixou bastante ferido.
Na época, era comum que as pessoas escravizadas assinassem o sobrenome de seus senhores e a avó de Laudelina assinava Junqueira, ela, no entanto, se recusou a fazê-lo e convenceu sua mãe a assim também se posicionar, assinando ambas, então, o sobrenome do seu pai, Campos Melo. Assim a família conquistou a liberdade.
Aos 18 anos, Laudelina casou-se e mudou-se para Santos. Lá, passou a compor a Frente Negra, sendo uma das diretoras e encabeçando o departamento doméstico. A Frente Negra funcionava também como um partido político e chegou a lançar candidaturas, mas foi dissolvido pela repressão política do Estado Novo de Getúlio Vargas.
Tratava-se de uma época em que as empregadoras não reconheciam as trabalhadoras domésticas como trabalhadoras formais, tampouco a legislação. As trabalhadoras domésticas não tinham direito a liberdade, férias, jornada de trabalho de 8 horas, descanso semanal remunerado e nem outros direitos adquiridos pela classe trabalhadora operária.
Laudelina, então, colaborou para a fundação da Primeira Associação de Trabalhadoras Domésticas no Brasil, a fim de organizar e defender essa classe, tendo em vista que estas foram destituídas das leis trabalhistas, motivo pelo qual a associação tinha até um caracter mais beneficente. Laudelina, enquanto presidenta da Associação, atuava como advogada e protetora da classe doméstica, lutando por direitos para aquelas que exerciam uma profissão que era resquício da escravidão, nas palavras de Preta Rara: “o quartinho da emprega é a senzala moderna”.
Laudelina alistou-se na Segunda Guerra Mundial, cumprindo todas as funções de um soldado, exceto ir à frente de batalha. Foi a primeira mulher negra de seu batalhão.
Em 1946, os sindicatos foram reabertos e reabriu-se também a Associação. Ela mudou-se para Campinas e, em algum tempo, fundou também a primeira Associação de Empregadas Domésticas daquela cidade e a partir de então, Laudelina passou a contribuir para que mais Associações fossem abertas em outras cidades e outros estados. Laudelina era o “terror das patroas”.
A associação foi novamente dissolvida pela ditadura militar e Laudelina foi presa e, um tempo depois, solta, por ter sua ação reconhecida na cidade inclusive pelo delegado. Houve a reabertura da Associação, no entanto, ela permaneceu vigiada.
Com o fim da guerra, Laudelina compôs a organização do primeiro Sindicato de Empregadas Domésticas do Brasil, e doou em cartório sua casa para que fosse sede do sindicato, declarando expressamente que o imóvel não poderia ser vendido ou utilizado para outro fim que não fosse a luta das trabalhadoras domésticas.
Laudelina faleceu em 1991, mas a força de sua luta, que ajudou na organização da classe trabalhadora, permanece viva. O legado de Laudelina permanecerá até que todas sejam livres, pois, nas palavras de Preta Rara, “o quartinho da empregada é a senzala moderna”.

Texto por: Karla Muniz

30 de novembro de 2020