Reinventar o movimento sindical frente às terceirizações na Universidade

Por Raissa Dantas

O futuro das universidades em tempo de precarização foi alvo de debate do XXVI CONSINTET-UFU | Foto: Raissa Dantas

A manhã do segundo dia de XXVI CONSINTET-UFU “Paulo Henrique Rodrigues dos Santos” iniciou o debate sobre “Os desafios da organização das trabalhadoras e trabalhadores na UFU em tempos de avanço da Terceirização”, com Marcos Augusto Freitas mediando o debate e, como convidados, Rogério Marzola, coordenador geral do Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Universidade de Brasília (SINTFUB), Maria Cristina Camin, trabalhadora da Fundação de Assistência, Estudo e Pesquisa de Uberlândia (FAEPU) e, ainda, Mário Guimarães Júnior, coordenador geral do SINTET-UFU.

Marzola iniciou as reflexões apresentando a conjuntura da terceirização nas últimas décadas no Brasil, que hoje culmina num contexto de ultra precarização, com uma crise que incide sobre aquelas e aqueles que vivem do trabalho, com um Produto Interno Bruto (PIB) insignificante e cerca de 30 milhões de desempregados, desalentados e subocupados. O coordenador do SINTFUB localizou os projetos de lei, proposta das federações de empresas e entidades patronais que propuseram para a economia brasileira um estrangulamento financeiro de direitos sociais aliada a lucratividade garantida a banqueiros e a burguesia. Rogério frisa que “o estado busca formas de intervir na nossa organização e quando faz isso, faz buscando quebrar nossa identidade e fragmentar nossas condições de luta”. Marzola finalizou apresentando os desafios e métodos na organização dos terceirizados, seja em firmas ou universidades, que são: rotatividade do emprego, substituição do vínculo de trabalhador (pela contratação do serviço), a sonegação de informação de postos de trabalho, ameaças das chefias por meio do assédio, demissões e sobrecarga pós-demissão de outros trabalhadores, a intervenção do judiciário na representação – uma lembrança de pré-88, consciência coletiva de classe na busca de saídas, demissões e outras práticas anti-sindicais. Disponibilizaremos posteriormente a apresentação de slides que o convidado Rogério Marzola trouxe para o presente congresso.

O público contribuiu com um rico debate na mesa da manhã do segundo dia de congresso | Foto: Raissa Dantas

Em seguida, Maria Cristina Camin, trabalhadora da FAEPU, colocou como centro de seu objeto de fala as relações multifacetadas do cotidiano de trabalhadores da Fundação em que atua e, nessa perspectiva, trouxe contribuições de aspectos dessa realidade vivenciada. Camin afirmou que é necessária “reflexão e olhar crítico do aviltamento que é para o trabalho ou para a pessoa humana a terceirização” e apresentou questões específicas do ambiente de trabalho no hospital da UFU, destacando as diferenças salariais entre fundacionais, terceirizados e concursados, a diferença de tratamento entre trabalhadores, o preconceito, a relação de subordinação e a negação de relação com o outro. Aprofundando tais elementos próprios de trabalhadoras e trabalhadores terceirizados, refletiu sobre a baixa condição salarial, a redução de postos de trabalho, o duplo vinculo de trabalho, o assédio das chefias, os atrasos contínuos de pagamento e o sentimento de menos valia em relação aos demais, que relacionam diretamente com as condições subjetivas e objetivas da vida dessas pessoas. Maria Cristina finalizou com as fundamentais reflexões sobre “o projeto neoliberal de esvaziamento das negociações coletivas, causa uma quebra da solidariedade, tão importante e fundamental como ferramento de construção e defesa de direitos e construção de direitos. O mais triste é perceber que dentro do próprio hospital, as próprias pessoas têm dificuldade de se identificar nesse processo de precarização. Esse poder de desarticulação do Estado é muito grande e da forma como as coisas estão acontecendo, se não reinventarmos a organização coletiva, pereceremos todos”.

Por fim, Mário Júnior, coordenador do SINTET-UFU, abriu sua fala com o questionamento sobre “como nós do SINTET-UFU vamos nos posicionar frente à questão da terceirização avançando na universidade?”. Posterior a isso o dirigente do SINTET-UFU apresentou dados fundamentais para compreender o quadro de funcionamento da UFU hoje, que em números possui 3256 técnicas e técnicos administrativos em educação concursados pelo Regime Jurídico Único (RJU) de diversos níveis, 1569 trabalhadoras e trabalhadores terceirizados, 233 estudantes bolsistas que realizam trabalho em setores administrativos e, ainda, diversos fundacionais (FAEPU, FAU, FUNDAP e RTU) os quais não tivemos acesso aos números. Mário afirma que “39% da força de trabalho, excetuando fundacionais, não é vinculada ao RJU. Que impacto tem nossas greves e paralisações se cerca de 40 a 50% da força de trabalho da UFU continua o serviço na UFU? Como vamos pensar na organização de trabalhadores terceirizados que em caso de falta, mesmo apresentando atestado, perdem sua cesta básica do mês? É esse o grau de dificuldades que precisamos enfrentar e que vamos enfrentar”. Guimarães Júnior defendeu ao plenário que o SINTET-UFU resgate o princípio da organização por local de trabalho, um debate anteriormente realizado de maneira ampla no processo de redemocratização brasileiro, um período marcado pela efervescência da organização da classe trabalhadora. “Quando fizermos uma greve, precisamos nos reunir com RJU’s, terceirizados e bolsistas pra pensar na adequação da greve àqueles setores de trabalho. Quando fizermos um congresso do SINTET-UFU, ele precisa contemplar esses trabalhadores com direito a voz e voto. Esses terceirizados precisam ter a oportunidade de votar e de ser coordenação do SINTET-UFU, a construir espaços da FASUBRA” enfatiza Mário Júnior.

28 de agosto de 2018