Saúde e segurança no HC-UFU: SINTET ingressará com ação em prol das trabalhadoras e trabalhadores do hospital

Texto: Lorena Martins

 

Nos últimos meses, notícias envolvendo o Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU) colocaram em evidência alguns dos problemas que configuram a realidade do hospital. A superlotação, combinada com condições de trabalho completamente inapropriadas ou até insalubres, além de outras questões, gera uma sobrecarga e, consequentemente, o adoecimento dos trabalhadores e trabalhadoras que ali atuam. Esse contexto distancia cada vez mais o HC dos objetivos para os quais ele foi criado: o ensino, a pesquisa, a extensão e o atendimento humanizado com foco no bem estar social previsto pelo Sistema Único de Saúde (SUS). 

O hospital, que atualmente é administrado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), atende toda a cidade de Uberlândia, além de 27 municípios do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba.

No dia 28 de agosto de 2023, foi realizada Audiência Pública sobre a saúde em Uberlândia no Ministério Público Estadual. Participaram o SINTET-UFU, o SINDSERH-MG, representantes do Ministério Público Federal e Estadual, do Conselho Municipal e Estadual de Saúde, da Superintendência da EBSERH, da Secretaria de Saúde de Uberlândia e do estado de Minas Gerais e do Legislativo das três esferas; a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) não enviou representação.

Na ocasião, Robson Luiz Carneiro, coordenador geral do sindicato, e José Carlos Muniz Filho, advogado, representaram o SINTET-UFU com falas na Audiência Pública e expuseram perspectivas políticas e técnicas do que os trabalhadores do HC-UFU enfrentam diariamente e que estão em inconformidade com direitos trabalhistas e normas de segurança hospitalar.

Um trabalhador da enfermagem, que não quis ser identificado, relata as péssimas condições do Pronto Socorro do HC, como “cômodos sem banheiro nem pia para lavar as mãos, janelas e ventilação escassas, poucos banheiros para atender o quantitativo do PS, muitos pacientes em corredores, pacientes expostos e materiais e equipamentos danificados e alguns de péssima qualidade”, exemplifica. De acordo com o servidor, esses problemas estruturais prejudicam diretamente a assistência aos pacientes e, muitas vezes, os trabalhadores acabam comprando equipamentos por conta própria para viabilizar o atendimento.

“Os trabalhadores, assim como os usuários, são os mais atingidos pela deficiência estrutural, pela falta de recursos de custeio e investimento e pelo arranjo organizacional que muitas vezes é antiquado”, afirma Sebastião Elias da Silveira, Enfermeiro do HC. O servidor, que atua no hospital desde 1994, considera que o trabalho é “muito hostil, realizado sob pressão permanente, por equipes desfalcadas quantitativamente e desmotivadas qualitativamente”, o que explica o adoecimento dos trabalhadores/as.

O enfermeiro observa que “como os profissionais que atuam no HC são muito especializados, há uma certa banalização dos mecanismos de segurança, como se esses trabalhadores não estivessem expostos aos riscos”. Este contexto, segundo Sebastião Elias, facilita o acontecimento de iatrogenias, “cuja responsabilidade também recai sobre os trabalhadores e isso não é aceitável, pois condições inseguras precedem os atos inseguros”, enfatiza.

Joana Darc de Oliveira é técnica de enfermagem no Pronto Socorro do HC, trabalha no hospital há 32 anos e fala sobre a dificuldade dos trabalhadores/as/ mais antigos em acompanharem as mudanças, apontando certa negligência por parte da gestão em oferecer a capacitação necessária a estes servidores. “A lei nos garante o direito de trabalhar até os 75 anos, mas o sistema não quer que a gente trabalhe, mesmo com nossa experiência e sabedoria adquirida ao longo do tempo”. A técnica afirma que, apesar dessas adversidades, os trabalhadores se esforçam para trocarem conhecimentos e se ajudarem, já que precisam atender bem os pacientes.

Sebastião Elias aponta a necessidade de reconhecer essa realidade e a partir disso, assumir que esta não é a única possibilidade. O enfermeiro defende que o ensino e a assistência devem ser considerados como processos indissociáveis quando dos processos de pactuação e destaca a importância da mobilização para que sejam realizadas melhorias estruturais nas instalações e organização dos processos de trabalho, além do reconhecimento da insalubridade em seu grau máximo para os trabalhadores que atuam no hospital.

Diante de inúmeros acontecimentos envolvendo o HC, além de denúncias por parte de trabalhadores/as, o SINTET-UFU providenciou o “LAUDO TÉCNICO DE ANÁLISE DE INCONFORMIDADES E MELHORIAS A SEREM APLICADAS NO HOSPITAL DE CLÍNICAS DA UFU”, apresentando as condições de saúde e segurança do trabalho no HC e suas dependências. O documento foi produzido por Bruno Henrique Dias Neves, do Grupo JFP, que é Engenheiro de Segurança do Trabalho e Engenheiro Eletricista, após visita técnica ao Hospital junto da Assessoria Jurídica do sindicato.

No dia 21 de setembro de 2023, o sindicato realizou Assembleia Geral no campus Umuarama, onde apresentou o laudo. Na ocasião, as trabalhadoras e trabalhadores votaram por unanimidade pelo ingresso de ações judiciais coletivas e/ou ações civis públicas sobre as condições de trabalho, saúde e segurança no HC. Durante a assembleia, foi deliberada a criação da Comissão de Acompanhamento das Condições de Trabalho no HC-UFU.

Disponibilizamos abaixo alguns registros fotográficos que constam no laudo:

 

 

O SINTET-UFU também criou um espaço para que as servidoras e servidores da UFU denunciem problemas estruturais e/ou relacionados às condições de saúde e segurança no trabalho não apenas no Hospital de Clínicas, mas em toda a universidade.

Acesse o formulário digital [CLICANDO AQUI] e faça a sua denúncia.

5 de outubro de 2023