Por Raissa Dantas de Sousa
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O Comitê em Solidariedade à Palestina, o SINTET-UFU e a ADUFU realizaram, nesta quinta-feira (20), no Campus Santa Mônica da UFU, a atividade "A Palestina após o frágil acordo de cessar-fogo no Oriente Médio", com a presença do professor Salem Nasser, especialista em Direito Internacional, docente da FGV-SP e estudioso do Oriente Médio e da questão palestina. O evento reuniu técnicos-administrativos, docentes, estudantes e membros da comunidade interessados em compreender o atual contexto geopolítico da Palestina e os desafios enfrentados pelo seu povo.
A atividade trouxe um resgate histórico essencial para entender como as noções de justiça foram moldadas ao longo dos tempos, em especial sobre a questão palestina, desde a divisão do território do Oriente Médio pela Liga das Nações, após a Primeira Guerra Mundial. O professor Salem Nasser contextualizou que após a Primeira Guerra, a região anteriormente conhecida como Império Otomano, foi repartida entre França e Reino Unido, que seriam mandatários daqueles locais com a justificativa de conduzir os futuros novos países ao autogoverno e à lógica ocidenal. No entanto, o processo de delimitação de fronteiras, incluindo a Palestina, seguiu interesses profundamente coloniais, para atender interesses políticos e econômicos.
Nasser relatou em sua explanação que já em 1921, a Liga das Nações declarou que "via com bons olhos que se fizesse algo na Palestina para o povo judeu", demarcando o início de um processo de violenta ocupação territorial que, ao longo das décadas, reduziu drasticamente o espaço controlado pelo povo palestino. O professor destacou que, atualmente, os palestinos têm domínio aproximado sobre menos de 22% do seu território histórico.
Salem Nasser também abordou a política de ocupação e colonização israelense, trazendo dados que explicitam, de maneira pedagógica, os abusos cometidos pelo Estado de Israel. O professor apresentou que atualmente na Cisjordânia, vivem cerca de 3 milhões de palestinos e 1 milhão de colonos israelenses. Nasser apontou que, para se construir qualquer edificação na região, a população precisa de aprovação do Estado de Israel – um processo extremamente desigual, já que 99% das licenças concedidas são para colonos israelenses e apenas 1% para palestinos.
Ao refletir sobre o futuro da Palestina, o professor destacou que a compreensão do que é "justo" tem sido manipulada ao longo dos anos e alertou sobre uma reflexão que tem feito há alguns anos, de que "vai chegar um momento em que o mundo vai achar justo que não haja território para a Palestina e que não há problema algum em expulsar o povo palestino de seu próprio território."
Nasser também lembrou a afirmação de Ze'ev Jabotinsky, teórico e intelectual sionista revisionista, no livro Il muro di ferro: Scritti identitari, “que "nunca houve um projeto colonial que deixasse os povos originários contentes", reforçando que a criação do Estado de Israel sempre teve uma intenção colonialista e que é necessário o povo judeu encarar a realidade de que "a intenção israelense sempre foi colonial”.
O evento proporcionou um espaço de debate fundamental sobre a memória histórica da Palestina, a atual ocupação de Gaza e o esquecimento da causa palestina no cenário global. Como destacou Mário Júnior, da coordenação colegiada do SINTET-UFU e que esteve presente na atividade, as entidades sindicais esperam poder construir, lado a lado com a comunidade universitária e o Comitê em Solidariedade à Palestina de Uberlândia, uma agenda permanente de atividades e mobilizações políticas em apoio ao povo palestino. A atividade segue nesta sexta-feira (21), no Campus Pontal da UFU, ampliando o alcance dessa discussão necessária e urgente para a comunidade de Ituiutaba. A atividade terá início às 18h30 no auditório 2 da UFU Pontal.
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